Iluminação e insônia
Uberlândia, 5 de março de 1998
Prezado Sr.
Luiz Fernando Quirino
Gostei muito de ler o que o Sr. escreveu ontem, em seu espaço diário no jornal
Correio, com alusão direta a um dos grandes problemas de nossa cidade:
a iluminação noturna de baixa qualidade.
Conheço várias pessoas que não conseguem dormir por causa do excesso
de luz que invade suas residências. Essa é uma situação bastante conhecida
no Primeiro Mundo, que já tem soluções simples e baratas em andamento.
É preciso chamar a atenção das pessoas para o fato de que esses são incômodos
desnecessários, causados por incompetência técnica na instalação das luminárias
externas que utilizamos em nossas ruas, praças, casas, quadras de esporte, etc.
A iluminação excessiva e dispersiva viola nossos direitos constitucionais,
causando problemas ambientais sérios. Há registros de casos de perdas de vidas
em acidentes por causa da iluminação agressiva. Além disso, jogar luz para onde
ela não tem utilidade significa desperdiçar dinheiro e energia elétrica. Tudo
isso poderia ser evitado se utilizássemos luminárias corretas, que não agredissem
os olhos das pessoas e que cumprissem sua função do modo mais econômico possível.
Construí um observatório astronômico na cidade para dar continuidade às minhas
pesquisas e para tentar superar as deficiências de nosso sistema educacional,
que cada vez mais se distancia do mundo real. Tenho tentado mostrar o céu para
turmas de alunos de diversas escolas, mas isto está cada dia mais difícil. A
iluminação pública de má qualidade, entre outras, tem sido responsável pela
perda da visibilidade do céu noturno, decretando o fim da astronomia como
ciência em nossa região.
Teriam os políticos o direito de decidir que nunca haverá cientistas da
astronomia em Uberlândia? O que faremos com todas essas crianças criativas
e apaixonadas pelas coisas belas que estão nos querendo roubar? Vamos permitir
que partam para outras regiões para lá exercerem sua vocação? Devo fechar o
Observatório e desistir de investir toda a minha vida numa cidade que despreza
minha cidadania e minha capacidade de contribuir para a formação de seres
humanos mais felizes e cultos? Não dá para aceitar.
Sr. Quirino, o seu texto é mais uma ajuda ao trabalho de conscientização que
venho fazendo há anos, em defesa de nosso meio ambiente e por uma melhor
qualidade de vida em nossa cidade.
Muitíssimo obrigado.
Roberto F. Silvestre
Astrônomo amador