Poluição luminosa é problema nas cidades
Há umas poucas décadas, quando as cidades utilizavam lâmpadas de baixa qualidade e brilho
fraco para iluminação das ruas, a beleza do céu noturno podia ser apreciada em toda a sua
plenitude.
Com a expansão descontrolada das áreas urbanas e o advento das lâmpadas de grande
luminosidade, muito se perdeu da transparência original da atmosfera. A razão disso
é o reflexo da luz das cidades no vapor d'água, nas partículas em suspensão e em outros
venenos que atualmente somos obrigados a respirar, em nome de um suposto progresso que
muitas vezes só interessa a poucas pessoas, enquanto outras são esquecidas e privadas até
mesmo do direito de participar das decisões que afetam seu futuro.
A poluição luminosa, nome que se dá ao brilho global do céu, vem prejudicando muito o
desenvolvimento da Astronomia, e em grau cada vez mais acentuado. Por causa dela, em muitas
cidades do mundo, vários observatórios estão sendo fechados e seus projetos educacionais e
de pesquisa abandonados.
Curioso é que essa é uma forma de poluição completamente desnecessária, por ser causada
apenas pela luz desperdiçada, e não pela luz útil, que nos permite enxergar as vias públicas
à noite. Por isso, seria muito fácil e desejável que se fizesse um esforço no sentido de
reduzi-la ao mínimo. Os ganhos de energia elétrica e dinheiro público seriam consideráveis,
como já ficou amplamente comprovado nas cidades onde uma tecnologia de iluminação moderna
foi implantada. Eliminar o fulgor do céu é como fazer um daqueles tipos de negócio em que
todos saem ganhando.
Para se evitar os efeitos nocivos da poluição luminosa, precisamos dar atenção à sua
principal causa: as luminárias antigas, espalhadas em grande quantidade pelas nossas
cidades, emitindo luz a grandes distâncias e acima da horizontal. Uma luminária moderna,
não poluidora, precisa ser desenhada de forma a concentrar a luz na área imediata ao poste
onde ela for instalada. Obtemos assim uma iluminação mais forte, uniforme, não dispersiva
e também não agressiva, por reduzir a incidência de luz sobre os olhos das pessoas.
Uma tentativa de se conseguir uma iluminação moderna e econômica está sendo feita na
Universidade Federal de Uberlândia, onde já estão instalando luminárias fechadas com
vidro plano e horizontal, impedindo que a luz seja perdida lateralmente e que escape
para cima, num esforço para se preservar a escuridão do céu de nossa região, que é
privilegiado. Embora muito ainda precise ser feito, o primeiro passo está dado.
Um próximo grande passo poderia muito bem ser a adoção dessas mesmas medidas nos projetos
de iluminação das nossas escolas municipais, cujas áreas são prioritárias para a construção
de pequenos observatórios astronômicos. Iluminar uma escola corretamente significa aproveitar
essa grande possibilidade educacional, o que viria contribuir para despertar o interesse
dos estudantes pela Ciência e para atender a uma flagrante carência de sentido prático
do Ensino, sentida pelos próprios alunos, que a mim a denunciam durante as visitas que
faço às escolas para palestras sobre Astronomia e, indiretamente, sobre cidadania.
Roberto F. Silvestre
ASTRÔNOMO AMADOR