O que é luz intrusa?


           Iluminar uma área corretamente é tarefa que deveria ser deixada para os técnicos especializados. O que se vê, na imensa maioria dos locais que recebem iluminação artificial noturna, hoje em dia, é uma demonstração de total desconhecimento dos princípios mais elementares da física, da matemática, da astronomia, da economia, da biologia e da ecologia. Essa falta de atenção vem criando um problema urbano do qual poucos têm conhecimento: a iluminação intrusa, que é uma das formas de poluição luminosa.
           A luz é considerada intrusa quando ultrapassa os limites da área a ser iluminada. Ela penetra através das janelas de nossas casas, atinge nossos olhos e nos ofusca em nossa propriedade, violando nossos direitos constitucionais. Ela nos causa incômodos como a insônia, nos tira a visão das estrelas e provoca acidentes fatais nas rodovias. Ela só continua existindo porque ficamos em silêncio, supondo que nada pode ser feito para evitá-la.
           Essa luz inútil e prejudicial é gerada por luminárias dispersivas de todos os tipos, utilizadas na iluminação pública, nas quadras de esportes, nos jardins de vizinhos, nas fachadas de prédios, na iluminação de cartazes, etc. Algumas vezes causado pela instalação incorreta de boas luminárias, esse fluxo de luz mal direcionado representa a perda de uma enorme quantidade de energia, além de causar problemas ambientais.
           É preciso mostrar a todos que as soluções para esse transtorno não significam uma redução do nível da iluminação útil. Elas consistem apenas no corte daquela luz que não está sendo utilizada, por partir na direção errada. Em muitos casos, o redirecionamento correto do fluxo faz aumentar a iluminação da área a tal ponto que as lâmpadas originais podem ser substituídas por lâmpadas mais fracas, produzindo o mesmo efeito de um modo mais econômico.
           Explicar a um vizinho que ele não tem o direito de iluminar a minha casa não é tarefa fácil. Em geral, a primeira coisa que ele vai pensar é que estou querendo que ele fique no escuro. Ele pode sentir também que estou limitando sua liberdade de fazer o que ele quiser em sua propriedade. Entretanto, o fluxo de luz que vem da casa dele para a minha é uma invasão que pode ser um grande incômodo. Como esse fluxo não tem nenhuma utilidade para o meu vizinho, ele tem o dever de eliminá-lo. Trata-se aqui de economia, competência técnica e respeito ao meio ambiente e aos direitos dos outros, trazendo como benefício direto uma iluminação não agressiva e melhor também para o seu proprietário.
           A iluminação pública de baixa qualidade é mais difícil de ser eliminada. Os postes das ruas costumam ter luminárias muito dispersivas, que enviam luz diretamente para dentro de nossas propriedades. Nesse caso, fica muito difícil reclamar, já que os políticos são, em geral, muito distantes do povo. Os técnicos responsáveis pela fabricação e pela instalação das luminárias também não se mostram interessados em colaborar porque sua preocupação é ter garantida a venda do produto. Enquanto as prefeituras das cidades comprarem suas luminárias poluentes, eles vão continuar fabricando. A única saída está numa exigência de qualidade para as luminárias cujos fabricantes queiram participar dos processos de licitação abertos pelas prefeituras. Por isso a educação do povo é tão importante. Nenhum político vai querer fazer uma obra de iluminação de péssima qualidade, que desagrade à maioria. Tais obras são feitas hoje, mas poucas pessoas percebem os erros cometidos. Assim, os políticos continuam a aprovar a iluminação dispersiva, principalmente porque ela permite que o eleitor leigo a observe à distância. Quando o povo compreender que a luz diretamente avistada de longe é uma luz desperdiçada, a situação vai mudar.
           Ajude a acabar com essa forma de incompetência que agride a Natureza. Instrua seus amigos sobre o problema, denuncie as instalações de iluminação pública incorretas, mostre a todos o desperdício de dinheiro público que isso representa e procure conversar com os políticos e empresários mais próximos, em busca de parceria. O meio ambiente, o futuro da Ciência e o das nossas crianças estão em perigo.


Roberto F. Silvestre
ASTRÔNOMO AMADOR



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