Uma nova proposta contra a poluição luminosa


A poluição luminosa é um problema ambiental pouco conhecido, que ocorre pela dispersão de luz na atmosfera durante a noite. Sua causa principal é a perda de quase 40% de toda a luz artificial gerada pelas luminárias que, por descuido na elaboração de seus projetos, deixam escapar esse fluxo diretamente para cima e para além da área a ser iluminada. Esse brilho noturno é prejudicial e inútil, porque afeta plantas, animais e pessoas, consumindo energia e dinheiro sem que se tenha um retorno benéfico em troca. O fulgor urbano irracional torna invisíveis os objetos celestes mais belos e inviabiliza o trabalho dos astrônomos.

O Observatório Astronômico de Uberlândia, por iniciativa própria, vem atuando numa campanha pela preservação da visibilidade do céu noturno desde setembro de 1992, mas, apesar das medidas positivas já tomadas para melhorar a iluminação pública, a poluição luminosa agravou-se e atingiu um nível que dificulta profundamente suas atividades de pesquisa e de divulgação científica.

A campanha tem a proposta simples de que se aproveite todo o fluxo de luz gerado à noite, pela eliminação das perdas desnecessárias que hoje ocorrem. Ela vem atuando em duas frentes distintas: a iluminação pública e a iluminação privada. A primeira gerou alguns bons resultados, após muitos anos de contatos diretos com o meio político. A segunda está sendo realizada através da tentativa de conscientização da população pela mídia, sem que se notem mudanças práticas significativas.

Os esforços feitos no sentido de melhorar a iluminação pública resultaram na utilização de luminárias menos dispersivas, que ainda apresentam alguns problemas menores, mas a atuação da campanha na iluminação privada mostrou sinais evidentes de que só teremos êxito através de leis ambientais mais abrangentes, que tratem especificamente da difusão de luz na atmosfera.

Na iluminação pública, estão sendo utilizados dois tipos básicos de luminárias, cada um deles com vários modelos. O primeiro tipo é fechado com uma lâmina transparente plana. Embora correto, ele está sendo instalado com uma inclinação que causa o lançamento de luz a uma grande distância. O segundo tipo utiliza um globo transparente, que difunde a luz também para cima, mas em menor quantidade que as luminárias mais antigas de formato semelhante. Este tipo tem sido o mais usado e tem causado interferências, principalmente nas imediações do Observatório. Portanto, a proposta de solução para esse caso é uma única ação que acaba de vez com o desperdício de luz da iluminação pública: a instalação somente de luminárias do primeiro tipo com inclinação zero.

Na iluminação privada, os erros são causados por inúmeros modelos de luminárias, algumas delas apontadas verticalmente para cima. Vários são os casos de incômodo causado a quem mora perto dessas fontes geradoras de luz mal direcionada. A proposta para esses casos é a aprovação de uma lei municipal que controle todo o tipo de iluminação externa noturna, como já existe em outros países. Nenhuma instalação deveria ter aprovação prévia sem se adequar a ela. Para as instalações já existentes, deveria ser dado um prazo para que fossem modificadas a atender às novas exigências legais.

Com essas duas ações paralelas, em poucos anos teríamos uma redução significativa do nível de luz perdida na atmosfera. Entretanto, uma terceira ação, que pode ser fundamental, é o tombamento do céu noturno como patrimônio natural da Humanidade, no mínimo com validade nacional. A partir daí, seria mais fácil resolvermos as questões legais relativas à sua contaminação pela luz que ninguém usa.

A poluição luminosa ocorre sem necessidade, é um problema de solução tecnicamente simples e está causando enormes danos a um bem que é de todos. Por isso, é importante que a atenção a esse tema ambiental não ocorra somente em respeito ao trabalho dos observatórios astronômicos. Ela deve estar presente em todos os lugares, na cidade e no campo, nas instalações públicas e particulares, com nossa participação urgente, já que as pessoas que ainda não nasceram não estão aqui para defender a visibilidade do céu noturno que elas podem perder de um modo definitivo.

Precisamos agir logo, antes que os danos causados pela poluição luminosa aumentem ainda mais. É nosso dever cuidar da Terra e entregar um ambiente natural menos poluído às futuras gerações.


Roberto F. Silvestre
13 de julho de 2004



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