Há anos estamos estudando a poluição luminosa, que é uma forma de degradação ambiental quase totalmente desconhecida, à qual poucos dão a devida importância no Brasil. Como esse problema resulta principalmente do desperdício de luz que ocorre nas cidades, vemos alguns pontos em comum entre os nossos interesses e os do IBAM.
Os astronomos de todas as partes do mundo estão preocupados com a forma irresponsável como nossas cidades estão sendo iluminadas. Em geral, temos lâmpadas muito fortes instaladas em luminárias dispersivas. O resultado disso é o lançamento de luz para cima e para fora da área que é o objeto da iluminação. Estima-se que o desperdício de luz gire em torno de 30 a 40%. São bilhões de dólares por ano, gastos sem nenhuma necessidade.
O prejuízo para a Ciência é enorme, já que, cada vez mais, o céu noturno vem recebendo aquela luz inútil, produto de nossa incompetência e insensibilidade, tornando-se opaco para a luz útil e tênue que chega do espaço sideral, proveniente dos objetos cósmicos, de cujo estudo depende o desenvolvimento da Astronomia e a compreensão do papel que devemos desempenhar no Universo.
O contato com especialistas de outros países, atuantes em campanhas pela preservação da escuridão do céu noturno, tem demonstrado que, paralelamente aos resultados favoráveis à Astronomia, as soluções para o problema da poluição luminosa nos trazem uma substancial economia de energia, além de produzirem um resultado melhor de iluminação. Muitas cidades do Primeiro Mundo possuem hoje leis mais modernas, que fazem referência direta a esse erro que incomoda a todos, regulamentando os níveis de iluminação e os modelos corretos de luminárias.
Apesar dos bons resultados no exterior, temos notado, ao longo de nossa campanha, uma tendência para que o problema da poluição luminosa seja ignorado. É comum ouvirmos citações às normas técnicas, que supostamente nos obrigariam a adotar luminárias dispersivas. Entretanto, há também, em nossas cidades, alguns bons exemplos de iluminação não dispersiva. Sendo assim, se as normas permitem um ou outro tipo, elas não podem ser utilizadas como desculpa. Fala-se também no custo da boa luminária, mas qualquer investimento inicial em qualidade é recuperado em pouco tempo pelo uso mais racional da energia. Além disso, não vemos razão para que uma luminária correta seja mais cara que uma dispersiva.
Há ainda a questão da moral para exigir da população que se submeta ao horário de verão, que reduza o gasto na hora de pico da demanda de eletricidade e outras coisas que são a ela sugeridas ou impostas. Uma simples olhada na paisagem urbana já nos mostra bem, através da visão direta das fortes lâmpadas distantes, como tais sacrifícios são em vão. A tendência é que, cada vez mais, as pessoas se tornem conscientes sobre esses gastos desnecessários e passem a cobrar soluções das autoridades administrativas das cidades, como estamos fazendo aqui desde 1992.
Nossa sugestão é para que os técnicos do IBAM analisem o assunto com cuidado, que esclareçam suas dúvidas com os astrônomos profissionais e que obtenham os dados sobre tais soluções econômicas conosco e através da busca na Internet, onde tudo isso está facilmente disponível. É importante que se abra a questão para discussão porque o que vem ocorrendo até o momento é uma falta quase total de diálogo entre os causadores do dano e os principais prejudicados por ele, aliada à continuação da instalação de luminárias dispersivas nas expansões da rede elétrica, sem a menor consideração ao meio ambiente, ao dinheiro do contribuinte e ao espaço existencial das pessoas.
Entre as soluções apontadas pelos técnicos de outros países, estão a utilização de luminárias apenas do tipo full cutoff, a utilização de lâmpadas mais eficientes na tarefa de converter eletricidade em luz, a definição dos níveis corretos de iluminação, levando em consideração o problema da saturação da visão e sua adaptação às mudanças de ambiente, a instalação de dispositivos que reduzam a potência dissipada pelas lâmpadas em horários de pouca utilização, etc.
A partir de nossa página na Internet, que contém exemplos de artigos e cartas usados na campanha brasileira, sugerimos visitas às páginas da International Dark-Sky Association e outras cujos endereços estão nela relacionados. Sugerimos também contatos com os astrônomos do Laboratório Nacional de Astrofísica, de Brasópolis, do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, do Observatório de Campinas e com a Prefeitura de Bauru, de onde tivemos notícias de uma experiência com dispositivos de redução de potência, embora não tenhamos conhecimento dos resultados.
Sendo só para o momento, pretendemos encerrar, colocando-nos inteiramente à disposição do IBAM para quaisquer esclarecimentos que forem necessários. Estaremos sempre gratos pela atenção que for dispensada ao tratamento adequado da questão.
Saudações a todos.