Uma explicação inicial
Imagine que você vem sendo prejudicado, há muitos anos, por um tipo de poluição
ambiental que arruina a atividade que está entre as principais razões de sua existência.
Então você descobre que, ao contrário do que você imaginava, essa poluição é facilmente
evitável, porque é causada apenas por um descuido sutil. Descobre ainda que ela não afeta
apenas você, e que, quando eliminada, pode gerar uma economia de energia e de dinheiro
público, ao invés de exigir altos investimentos, como no caso das outras formas de
poluição. Você imagina que ela continua ocorrendo porque poucas pessoas têm conhecimento
dela e dos danos que ela causa. O que você faz para mudar essa situação?
Minha reação foi iniciar uma campanha para conscientizar o maior número
possível de pessoas a respeito desse problema, trabalhando principalmente com estudantes,
educadores, políticos, empresários e cientistas. Iniciei uma série de palestras nas
escolas, enviei cartas a pessoas responsáveis pela administração pública, escrevi artigos
para os jornais e dei entrevistas na TV. O resultado de tudo isso pode ser percebido
facilmente pelo grande número de pessoas que hoje tem conhecimento da informação que
divulguei na minha cidade. Mas não passou daí, pois o problema ambiental que combatemos
continua se agravando de uma forma cada vez mais acelerada, sem que se note um único
sinal de que alguma providência será tomada.
Esta nossa luta é contra a poluição luminosa, nome dado ao fulgor global da
atmosfera, que nos rouba a beleza do céu noturno e que é causado apenas pelo desperdício
de luz. Não é, portanto, a iluminação correta de uma área que causa a poluição luminosa,
mas a sua iluminação por luminárias dispersivas, de qualidade inferior, ou mal instaladas,
que difundem a luz para cima e para além da área que se pretende iluminar. Assim, suprimir
esta poluição é evitar apenas o desperdício, sem afetar aquela área, que permanece com uma
visibilidade tão boa quanto antes, ou ainda melhor. Por isso fica muito difícil aceitar
que essa forma quase totalmente ignorada de violência contra o meio ambiente continue a se
agravar de uma maneira tão rápida e despreocupada, principalmente em um país onde se fala
tanto em economia e racionamento de energia elétrica.
Os textos que estou colocando aqui são muito semelhantes entre si devido à simplicidade
do assunto tratado, de cujos poucos ítens não se consegue fugir. É justamente essa
simplicidade que incomoda os astrônomos, que se fazem entender até mesmo pelas crianças
das primeiras séries escolares, mas, em geral, não convencem as pessoas que poderiam
ajudar a eliminar facilmente essa forma de poluição que afeta a todos.
Muitas vezes, quando tentamos atuar em favor da preservação de um patrimônio natural,
ou de qualquer outra causa pública, podemos interferir com complexos sistemas
de interesses que pretendem se perpetuar a qualquer preço. Quando isto acontece não é bom
ficar sozinho, principalmente porque a luta contra a poluição luminosa não é a defesa
das idéias de apenas uma pessoa, mas, no mínimo, de todos os astrônomos, que têm o
seu laboratório cada vez mais ameaçado pelo "progresso". E já há tempo que venho cobrando
uma atitude conjunta dessa parcela da comunidade científica brasileira.
Este será o local de concentração dos textos sobre poluição luminosa. Talvez as idéias
neles contidas acabem chegando às mãos de alguma pessoa influente, competente e responsável,
que de fato se importe com as questões ambientais e que consiga implementá-las na forma
de uma lei, pois a única maneira conhecida de se obter qualidade de vida e respeito à
Natureza neste mundo é através da obrigação legal e da ameaça penal.
Nada do que está escrito aqui tem a intenção de prejudicar nem de ofender qualquer
pessoa ou instituição. É apenas uma tentativa honesta de mudar para melhor o que entendo
estar errado. Quem não concordar comigo deve colocar a sua própria opinião
e justificativas na Internet, para que todos possam ler.
Roberto F. Silvestre
ASTRÔNOMO AMADOR