Carta ao CREA do Rio de Janeiro

Uberlândia, 9 de fevereiro de 1996


Ilmos. Srs.
Diretores do
CREA-RJ


           Ao ler o Boletim do CREA-RJ, de número 119, publicado no último trimestre de 1995, tratando de um assunto tão importante como ecologia, vi que era chegada a hora de denunciar um problema que vem se agravando rapidamente em todas as nossas cidades, para o qual peço sua especial atenção, pois somos, em grande parte, responsáveis por ele.

           Já há vários anos, astrônomos profissionais e amadores vêm tentando, em vão, chamar a atenção das autoridades para o aumento desnecessário da poluição luminosa, que prejudica enormemente seu trabalho e lazer. Como engenheiro e astrônomo amador, conhecedor dos malefícios causados pela diminuição da transparência natural da atmosfera, venho trabalhando já há quase quatro anos numa campanha para melhorar a qualidade da iluminação adotada em minha cidade, sem nada conseguir até o momento.

           A poluição luminosa, pouco conhecida, é a iluminação da atmosfera, causada pelo lançamento de luz para cima a partir de luminárias mal projetadas. Ela resulta, portanto, do desperdício pela falta de cuidado no direcionamento da luz gerada. Dessa maneira, sua eliminação, além de evitar um dano grave ao meio ambiente, poderia trazer o benefício da economia de energia elétrica. Assim, não pode haver razão lógica alguma que justifique a existência desse tipo de poluição, já que a eliminação do problema em nada afetaria a parte útil da luz gerada, usada principalmente para a iluminação de nossas vias públicas.

           Em Uberlândia, bem como em muitas outras cidades brasileiras, já está em andamento um processo de substituição das antigas lâmpadas a vapor de mercúrio pelas novas lâmpadas a vapor de sódio a alta pressão, muito mais luminosas, econômicas e duradouras. Em muitos casos, estão substituindo lâmpadas de mercúrio por lâmpadas de sódio de maior potência e, evidentemente, maior consumo, perdendo-se a oportunidade de iluminar melhor gastando menos. E isto está sendo feito sem a revisão das luminárias, que continuam a lançar o mesmo percentual de luz para cima, significando mais luz perdida, em termos absolutos, e maior agressão ao meio ambiente.

           Infelizmente, nenhum argumento parece fazer sentido para a maioria das pessoas com quem tenho conversado e solicitado a atenção para a solução do problema. Algumas sequer conseguem compreender que a luz que vai para cima, ou que sai lateralmente da luminária sobre os olhos das pessoas, não está cumprindo sua função de iluminar o chão. Em certos casos, mesmo sabendo que tenho razão, muitas simplesmente não se interessam, demonstrando, além de incompetência profissional, uma grande falta de sensibilidade e de respeito à Natureza.

           Vendo o problema se agravar e continuando a ser ignorado pelas autoridades locais, pensei na possibilidade de que algo pudesse ser feito a nível da ISO 14000, na parte que trata de emissões e radiações. Para isso envio farto material técnico, cartas e artigos que tenho utilizado em minha campanha, e que pode também ser aproveitado para a conscientização dos colegas, principalmente engenheiros e arquitetos, servindo como diretriz para a elaboração de seus futuros projetos.

           Para mais esclarecimentos a respeito do mesmo assunto, sugiro contato com o Dr. Augusto Damineli Neto, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP, à avenida Miguel Stefano, 4200, CEP 04301-904, São Paulo, SP. Outro bom contato é o Naelton Mendes de Araújo, do Departamento de Educação do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no Observatório Nacional, à rua General Bruce, 586, CEP 20921-400, Rio de Janeiro, RJ. Seus endereços eletrônicos, na Internet, são, respectivamente, [email protected] e [email protected].

           Milhões de pessoas como eu aguardam ansiosamente por uma época de mais respeito ao meio ambiente, na qual a inteligência prevaleça. Não é mais possível ter que suportar o desleixo, a prepotência e o sarcasmo quando tentamos tratar responsavelmente de assuntos tão sérios como a preservação de nossos patrimônios naturais. É chegada a hora de mudanças globais de atitudes, buscando uma melhor qualidade de vida para todos e garantindo nossa sobrevivência como espécie no Planeta.

           Agradeço antecipadamente pela sua atenção, solicitando apoio à minha campanha e continuidade neste esforço por dias melhores. Envio um grande abraço ao amigo José Chacon, colega da UFF em épocas difíceis, para quem peço especial carinho no tratamento para tornar útil o material anexo.


Roberto F. Silvestre
ASTRÔNOMO AMADOR



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