Energia Econômica
O artigo sobre uso eficiente de energia na iluminação (Ciência
Hoje, nº 90) não leva em consideração aspectos que podem ser
relevantes para o desenvolvimento da Ciência. O uso ineficiente
e sem critérios da iluminação pública é a principal causa da
poluição luminosa, que tem afetado a visão do céu noturno mesmo
em lugares distantes dos centros urbanos. É curioso que, quando a
Ciência começa a obter respostas confiáveis sobre a inserção do
homem no Universo, adotemos a atitude de apagar a visão do céu
noturno, fonte principal de informação, e afastemos a apreciação
de sua beleza. A questão parece se resumir a considerações
estético-filosóficas pela falta de estudos sobre um eventual
impacto ecológico. Entretanto, existe uma espécie ameaçada de
extinção: os astrônomos ópticos. E nem se pode pensar em solução
espacial em futuro próximo, como o telescópio Hubble o demonstra,
por seu alto custo e problemas correlatos.
Ao menos para os astrônomos profissionais, a solução caminha na
direção da abordagem do artigo em questão: uso eficiente de novas
tecnologias, gerando maior economia de energia. De fato, as
lâmpadas de sódio de baixa pressão, embora ainda não existam no
mercado nacional e, portanto, não sejam tratadas no artigo,
provocam menos poluição com maior razão lumens/Watt, por radiarem
quase exclusivamente nas linhas espectrais do sódio. Para os
astrônomos, a poluição fica restrita à pequena região espectral e
o consumidor tem as ruas mais iluminadas, com economia de
energia. A isso deve ser somada uma política pública que
normatize os projetos de construção e uso de iluminação externa,
por exemplo com luminárias que deixem passar luz apenas abaixo da
horizontal, iluminando as ruas e não o céu.
No Brasil, os astrônomos só possuem um observatório de porte
competitivo, em Brasópolis, ao sul de Minas. A região
circunvizinha deveria ser alvo preferencial de política de uso
eficiente de energia na iluminação.
Carlos Alberto de Oliveira Torres
Laboratório Nacional de Astrofísica
(MCT / CNPq)