Escrevo para agradecer a V.Sa. por ter me atendido na Secretaria no último dia 20 de outubro e para tecer mais alguns comentários que a situação presente naquela breve reunião não me permitiu fazer.

Há sete anos venho tentando chamar a atenção das autoridades políticas locais para o fato de que a iluminação artificial noturna de nossa cidade caminha numa direção que a está levando a cometer um grave erro de difícil reparação em futuro próximo. Basicamente, o problema está na dispersão desnecessária de luz e no desperdício que a acompanha, produzindo um alto nível de poluição luminosa que, entre outras conseqüências desagradáveis ou até mesmo perigosas, inviabiliza as atividades relacionadas com a Astronomia em nossa região.

Essa forma de agressão à Natureza, ainda desconhecida pela maioria, já vem sendo tratada com a merecida atenção nos países do Primeiro Mundo, apresentando bons resultados, não somente pelos benefícios ao meio ambiente como também pela economia de energia elétrica e de dinheiro público que resulta dos esforços para eliminá-la. Como cidadão residente em Uberlândia há mais de 17 anos, conhecedor do problema e diretamente prejudicado por ele, sinto-me no dever de contribuir com as informações que possuo, no sentido de alertar o Poder Público para que impeça seu agravamento, sob pena de não mais termos nossa ciência desenvolvida na região.

Não se pode compreender que numa época em que se fala em economia e racionamento de energia elétrica tenhamos esse mau exemplo na nossa iluminação artificial noturna em todas as suas modalidades. E é com o intuito de melhorá-la que ainda solicito a parceria com a Prefeitura Municipal de Uberlândia, a qual, entendo eu, tem o dever de defender os interesses do povo.

O Observatório Astronômico de Uberlândia, construído por iniciativa privada mas de uso inegavelmente público, que vem contribuindo para a educação científica de milhares de pessoas de todas as idades, está ameaçado de encerrar suas atividades de pesquisa dentro de um tempo muitíssimo curto por causa da destruição quase total e desnecessária de seu material de trabalho, que é o céu noturno, patrimônio natural que no Cerrado tem um aspecto muito especial. Havendo na cidade outros projetos de observatórios em andamento, ameaçados pela mesma razão, não podemos mais aceitar que se continue a fazer a iluminação de nossas áreas urbanas sem os devidos cuidados. Além de esforços no sentido de rever os projetos de iluminação, deveríamos também procurar aprovar leis ambientais que levassem em conta essas interferências nocivas, desnecessárias e tão pouco conhecidas, para reduzir a velocidade de expansão da poluição luminosa causada pelas outras fontes de luz, que também não são poucas.

A cidade sofre demais com a iluminação dispersiva. Essa luz perdida leva com ela o nosso dinheiro, seja público ou não. Ela é desprovida de utilidade e causa, cada vez mais, uma série de transtornos que poderiam ser facilmente evitados. Nossa concessionária de energia elétrica, a Cemig, deveria estar atenta para essa questão, já que uma das políticas da empresa é a de dar atenção ao meio ambiente, minimizando os impactos que ela provoca. Dependemos da Cemig para iluminar nossas áreas públicas, mas devemos exigir, através da Prefeitura, uma iluminação verdadeiramente moderna, que não desperdice luz nem inviabilize as atividades científicas cada vez mais presentes na vida de nossos cidadãos que, afinal de contas, estão pagando a conta do atual desperdício.

Sempre na intenção de colaborar, continuo disponível para prestar mais esclarecimentos se isto for necessário. Conto com o apoio da Prefeitura, na pessoa do Sr. Virgílio Galassi, esperando também que V.Sa., já consciente dos problemas urbanos que citei e responsável direto pela nossa iluminação pública, interceda por nós na busca por uma melhor qualidade para esses serviços tão importantes para nossa comunidade, que hoje conta com milhares de simpatizantes à causa da preservação do céu noturno.