Astronomia e problemas urbanos
As pessoas que nos acompanharam à Academia Americana de Equitação e Equoterapia,
no km 12 da estrada Uberlândia-Prata, e que observaram com facilidade o cometa
Hale-Bopp a olho nu, puderam perceber como é bela a visão do céu a partir de um
local sem iluminação artificial e com o ar menos afetado por fumaça e outros
poluentes.
A perda da transparência da atmosfera em nossas cidades compromete a Astronomia,
que é uma ciência dependente da captação da luz muito tênue que nos chega de
objetos situados a imensas distâncias no espaço cósmico. Por isso, evitar a
inutilização do céu noturno é uma obrigação de todos nós, em respeito às futuras
gerações, que devem ter assegurado o direito de apreciar sua beleza.
Ao iniciar, em 1992, uma campanha educativa a favor de uma iluminação artificial
noturna de melhor qualidade, logo percebi como é difícil mudar os hábitos de
desperdício com os quais há tanto tempo estamos acostumados a conviver. Ao enviar
dezenas de cartas a engenheiros, empresários, políticos, fabricantes de luminárias
e técnicos em iluminação, fiquei convencido de que poucos são aqueles com a intenção
de procurar soluções. A maioria não percebe que está perpetuando os erros do passado,
copiando o que existe de pior nas outras cidades e perdendo a oportunidade de inovar
para servir de modelo ao País. Criam, assim, problemas seríssimos, cujo agravamento
nos levará inevitavelmente a uma situação insuportável de degradação ambiental e,
em conseqüência, da qualidade de vida, da qual tanto se fala por aqui.
As luminárias dispersivas, como as que temos instaladas na maioria das ruas de
nossas cidades, lançam luz intensa diretamente sobre nossos olhos, causam ofuscamento,
confusão e estresse, comprometendo a segurança do trânsito de veículos e pedestres.
Ao enviarem grande quantidade de luz também para cima, dão origem, sem nenhuma
necessidade, à poluição luminosa, que é aquele fulgor que cobre nossas áreas urbanas,
nos rouba a visão das estrelas, e que é prova de enorme desperdício de energia
elétrica e de dinheiro público.
As soluções para esse problema já estão sendo implementadas em algumas cidades de
países do Primeiro Mundo, onde se exige competência técnica e respeito ao meio
ambiente por parte de seus dirigentes, que, afinal de contas, são servidores do
povo e, por isso, devem estar sempre atentos às suas reivindicações.
Ao difundir em Uberlândia essas mesmas idéias para se chegar a um modelo realmente
moderno de iluminação das nossas áreas externas, tenho apenas o propósito de preservar
um patrimônio natural, poupar dinheiro e energia, eliminar o desperdício de luz,
embelezar a cidade e melhorar nossa qualidade de vida. Pouco me importa de quem
serão compradas as luminárias, desde que elas não contaminem o meio ambiente com
luz inútil e prejudicial.
O reconhecimento da poluição luminosa como um dos problemas ambientais que criamos
é o primeiro passo para sua solução. Por isso é necessário trabalhar pela sua
divulgação, principalmente junto às escolas, educando nossos estudantes para que se
tornem cidadãos mais conscientes e respeitadores da Natureza em todos os seus aspectos.
Uberlândia ainda não tem um programa de iluminação pública verdadeiramente moderno,
mas pode se orgulhar de estar entre as cidades do Brasil que têm os maiores
percentuais de habitantes conscientes dos problemas causados pela poluição luminosa.
Pode ser que muitos deles não se importem com o desaparecimento das estrelas, mas
certamente os incomoda saber que é com seu dinheiro que nossas nuvens são
iluminadas à noite.
Roberto F. Silvestre
ASTRÔNOMO AMADOR