Um alô para todas as crianças: vocês sabem o que é poluição luminosa?


           Não? Pois saibam que é um mal que já atinge a região compreendida entre Campos do Jordão, Pouso Alegre, Itajubá e Pedralva. Isto é mais ou menos toda a extensão avistada do alto do Pico dos Dias, onde se localiza o Observatório. Justamente a nossa região! Diferente das outras formas de poluição, esta não causa danos à saúde humana ou animal ou vegetal, e tampouco afeta a camada de ozônio. A enorme quantidade de luz que emana das cidades e das queimadas em direção à alta atmosfera pode ser facilmente fotografada por satélites durante a noite, e sua visão é impressionante. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro são perfeitamente identificadas.
           Para os astrônomos, no entanto, toda essa luz citadina, e as partículas sólidas resultantes das queimadas, significam que menos corpos celestes são vistos a cada dia, e aqueles ainda visíveis já não o são com a mesma nitidez.
           Só os astrônomos perdem com isso? Não. Todo o povo brasileiro perde, e muito. A cultura de um povo também se caracteriza pelo grau de conhecimento científico que ele alcança. A Astronomia é uma ciência básica, e como tal é geradora de novos conhecimentos, a partir dos quais, e em sua busca, novas tecnologias são desenvolvidas e aplicadas no dia-a-dia de toda a comunidade. À medida que a Astronomia Brasileira progride, o Brasil como um todo progride.
           Muita gente nunca viu a Via Láctea, parte da nossa galáxia. Quem mora nas cidades não vê mais que duas dúzias de estrelas, às vezes nem isso. O olho humano é capaz de distinguir estrelas de até sexta grandeza, o que significa que a uma simples olhadela deveríamos ver cerca de 2000 estrelas!
           Enquanto o telescópio de 2,5 m no Monte Wilson (Califórnia, Estados Unidos) teve que ser desativado por causa do forte brilho do céu noturno da cidade de Los Angeles, os telescópios do Monte Palomar (San Diego), de Kitt Peak e Monte Hopkins (Tucson, Arizona) seguem em operação graças ao esforço conjunto dos astrônomos, dos habitantes dessas cidades e principalmente das autoridades competentes. Os astrônomos profissionais e amadores conseguiram conscientizar a população sobre o problema, e as autoridades promulgaram leis regulamentando o tipo de lâmpada a ser usado nas partes externas das casas e nas ruas e estradas da região.
           O que as pessoas em geral não sabem, é que as lâmpadas comuns, incandescentes, são as que menos iluminam e mais consomem energia (portanto gasta-se mais dinheiro); lâmpadas de sódio a baixa pressão iluminam nove vezes mais, sem aumentar o valor da conta de luz! E apresentam a vantagem adicional de emitirem luz quase monocromática, sem atrapalhar as observações astronômicas.
           Além desta escolha de lâmpadas, também é fundamental providenciar suportes para as luminárias, que concentrem a luz para baixo, em direção ao solo. As vantagens são claras: direcionamento total da luz para as ruas e estradas, sem perdas desnecessárias (em direção ao alto, poluindo o céu noturno).
           Impossível fazer o mesmo aqui? É óbvio que não.


Mariângela de Oliveira-Abans
Laboratório Nacional de Astrofísica
(MCT / CNPq)



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