Às vezes a turma das conspirações passa da conta e nos deixa com poucas esperanças de ver um país como o nosso se destacar futuramente na área científica. Será que o número de pessoas que não conseguem compreender as coisas mais simples vai continuar crescendo por aqui? Será que esses inimigos dos livros vão invadir todos os espaços sociais e criar um mundo como o do romance Fahrenheit 451, de Ray Bradbury?

É inacreditável, mas chegaram ao cúmulo de criar caso com o tamanho da Terra. Você também acreditou que o tamanho da Terra ficou muito suspeito nas fotos que os astronautas da NASA trouxeram da Lua? Você acha que os paranóicos das conspirações descobriram uma prova evidente de que aquelas fotos são falsas? Você não acha esquisito que nenhum cientista do mundo tenha notado a mesma coisa? Você consegue descobrir se uma foto é falsa pela comparação entre o tamanho real de um objeto e o tamanho que ele apresenta na foto? Você já viu a foto de uma bactéria? Ela apareceu na foto com o mesmo tamanho de uma bactéria? Você já viu a foto de um planeta? Ele apareceu na foto com o mesmo tamanho de um planeta? Você já ouviu falar em ampliação e redução?

Começo a acreditar que os conspiranóicos sejam mutantes com superpoderes, como os X-Men. Eles conseguem olhar para uma fotografia da Terra vista da Lua e dizer, com toda a certeza, que nosso lindo planeta azul não aparece nela com o tamanho que deveria. Eles percebem facilmente que o diâmetro da Terra, na foto, não é o mesmo que o diâmetro visto a olho nu a partir da Lua pelo astronauta fotógrafo. Para isso, em sua infinita esperteza, eles desprezam variáveis incômodas, tais como a distância focal da objetiva da câmera, o tratamento posterior da imagem, as dimensões do monitor do computador, a resolução da tela, a distância da imagem aos olhos do observador, etc. Ao que parece, aqueles “pesquisadores” parecem ignorar tudo aquilo que possa deixar evidente que eles estão falando bobagens.

Você já bateu uma foto direta da Lua, sem utilizar telescópios nem o recurso de zoom? Faça isso e depois compare a Lua vista por você com a imagem da Lua que está na foto. Você acha que a imagem da foto vai ter o mesmo tamanho que a verdadeira Lua tem para seus olhos? Faça ampliações ou reduções fotográficas e repita a comparação. Bata fotos com lentes diferentes ou com uma teleobjetiva. Olhe as fotos a partir de distâncias diferentes. Digitalize a melhor foto, crie várias versões dela em tamanhos diferentes com um editor de imagens, exiba no monitor do computador, troque o monitor por um maior e olhe novamente, mude a resolução do vídeo e veja o resultado. Você acha que nada disso pode fazer a imagem da Lua ficar diferente do tamanho “real” da Lua, tal como visto no céu por você? É claro que pode, mas isso parece não ter a menor importância para quem apenas deseja confundir as pessoas, apontando erros que não existem.

Imagine que alguém tenha lhe dado uma foto da NASA, mostrando a Terra vista da Lua. É solicitado que você faça uma análise técnica, mas ninguém lhe diz como a foto foi obtida nem como foi tratada posteriormente. Dentro dessa situação hipotética, você acha que faz sentido afirmar que a fotografia é falsa porque a Terra não aparece nela com o mesmo tamanho que a Terra é vista da Lua? A resposta é que não faz sentido, porque as imagens que obtemos do mundo real podem ter, na apresentação final, o tamanho que nós escolhermos para elas. Imagens são somente representações da realidade e admitem infinitas variações igualmente aceitáveis. Apesar disso, os conspiranóicos conseguem enxergar o invisível, deduzir o indedutível e comparar o incomparável, afirmando algo estapafúrdio logo após uma rápida olhadela numa fotografia. Mas o pior é que ocorre também algo mais grave, que nos causa grande preocupação e que deveria ser impossível mas não é: com a conversa mole, abarrotada de incoerências facilmente detectáveis, aqueles inimigos da Ciência, inquisidores dos tempos modernos, conseguem convencer um monte de gente que se acha muito esperta. Deve ser um sinal do futuro negro que vem por aí.

Copiei uma foto da NASA para meu computador de trabalho. Ela mostra a Terra vista a partir da órbita lunar. Eu a editei para criar as figuras desta página. Fiz somente duas por falta de espaço, mas eu poderia ter feito dezenas delas, cada uma mostrando a Terra com um tamanho diferente. A foto da figura 1 está compatível com o que um astronauta veria da Lua, porque tomei o cuidado de calcular, para meu monitor e para a distância que meus olhos ficam dele, qual o diâmetro que a imagem da Terra deveria ter. Se você quiser fazer o mesmo, é bom saber que a Terra é vista da Lua com o mesmo tamanho que vemos uma moeda de 2 cm de diâmetro colocada a 60 cm de distância de nossos olhos. A foto da figura 2 foi ampliada apenas para deixar bem claro que o tamanho de uma imagem nada diz sobre como o fotógrafo viu a cena no momento em que bateu a foto.

Se você quiser ver o resultado de uma terceira edição da mesma foto da NASA usada para criar as duas desta minha página, clique AQUI. Eu a encontrei em um dos sites sobre a "grande conspiração" das viagens à Lua. Note que ela foi reduzida à vontade pelo autor do site, o qual ainda fez comparações baseadas no tamanho que a Terra apresenta nessa imagem cujas dimensões foram escolhidas por ele mesmo. Então, sem a preocupação de procurar pelas imagens originais da NASA, um visitante leigo pode olhar para essa minúscula edição por dois segundos e deduzir que, como a Terra está pequena, só pode ser por culpa dos cientistas imperialistas mentirosos e capitalistas selvagens, enquanto os verdadeiros culpados por toda essa confusão se transformam nos heróis que os desmascararam.