A formação de penumbras impossíveis


Figura 1: Astronauta Edwin Aldrin descendo
                a escada do Módulo Lunar.

Você acha mesmo que aqueles "pesquisadores" da Nova Era sabem o que é penumbra? Você "aprendeu" o que é penumbra lendo aquelas páginas da Internet sobre conspirações? Você acha que um astronauta, na Lua, não poderia aparecer numa foto se ele estivesse na sombra do Módulo Lunar, como mostra a fotografia ao lado? Não teria sido por acreditar em mentiras como essa que você passou também a ter certeza de que ninguém esteve na Lua nas missões do Projeto Apollo? Por que você acha que nenhum cientista do mundo estranha a existência de penumbras na Lua? Por que você acha que somente os analfabetos científicos sempre estranham as penumbras e muitas outras coisas perfeitamente normais? Você não percebe o que realmente está acontecendo?

A afirmação da necessidade do ar, principalmente do oxigênio, para a formação de penumbras só pode ser uma brincadeira ou uma piada. Se o resultado dela não fosse trágico, deveria nos fazer rir. Apesar disso, aquela "explicação" absurda, que demonstra total desconhecimento sobre como ocorrem os fenômenos naturais mais simples, vem convencendo milhões de pessoas que se tornaram incapazes de perceber essas aberrações como o que elas de fato são: o resultado da mais absoluta falta de estudo, que atualmente parece estar na moda.

Você sabe como se pode mentir e convencer pessoas leigas com grande facilidade? Basta lançar uma dúvida no ar, apelar para emoções primitivas latentes, criar falsas leis com aparência científica e depois mostrar, em fotos e vídeos, que estes não estão cumprindo aquelas "leis universais". Funciona maravilhosamente bem, porque o exército dos iludidos só faz crescer, principalmente com a adesão exponencial dos mais jovens. No caso das viagens à Lua, lança-se a "lei física" da impossibilidade de existir penumbra no vácuo, apela-se para a atual antipatia que alguns têm pelos Estados Unidos, mostram-se fotos e vídeos com penumbras e "prova-se" que são todos falsos. A partir daí fica mais fácil de manipular os enganados.

As penumbras não são causadas pelo oxigênio. Isso só foi dito naqueles textos porque quase todo o mundo sabe que na Lua não há oxigênio e, assim, fica mais fácil de convencer suas vítimas de que também não pode haver penumbras na Lua. Mas a verdade pura e simples é que uma penumbra é apenas uma sombra que não é total, porque recebeu um pouco de luz. É uma sombra parcialmente iluminada, apenas isso, sem nenhum mistério nem necessidade de explicações mirabolantes, criadas por alucinações científicas. Ocorre penumbra, por exemplo, quando um refletor ilumina a sombra de um objeto que um outro refletor cria sobre um anteparo. Ocorre penumbra nos eclipses. Ocorre penumbra durante o dia, dentro de nossas casas. É coisa muito comum e só precisa da luz para acontecer, não do ar.

Mas, como explicar o caso da Lua? De que modo uma região de sombra poderia ser iluminada para formar uma penumbra em um lugar onde a única fonte de luz direta é o Sol? Somente por meio da refração atmosférica? Somente pelo ricochete dos raios de luz em átomos de oxigênio, sucessivamente, por diversas vezes, até chegar à sombra e torná-la clara? Será que criaram toda a fraude em um estúdio e usaram refletores? A resposta é não, porque penumbras podem ser formadas pela luz indireta, que também ilumina, como todo bom fotógrafo sabe. E o que não falta na Lua é luz indireta, criada pelo solo lunar diurno brilhante.

Quando a luz incide sobre uma superfície irregular, áspera, uma parte dela é absorvida e outra parte é rebatida de volta em várias direções. É o que ocorre aqui mesmo na Terra quando conseguimos enxergar toda a paisagem diurna iluminada pelo Sol, direta ou indiretamente. O fato de vermos ou fotografarmos uma cena aqui na Terra é a prova da existência desse fenômeno da difusão de luz, pois cada região pequena da paisagem emite alguma luz em nossa direção, que pode ser captada por uma câmera. Embora a Terra tenha uma atmosfera, é claro que esse fenômeno da difusão de luz não depende da presença do ar, porque a luz se propaga ainda melhor no vácuo. Figura 2: Criação de penumbras.
                (no vácuo ou no ar) Se assim não fosse, não enxergaríamos a Lua a partir da Terra. A existência do luar prova que a Lua reflete a luz do Sol sem problemas, apesar do vácuo. Com isso temos a explicação simples para a visibilidade da paisagem lunar nas fotos da NASA: as câmeras receberam a luminosidade intensa do solo e a registraram nos filmes.

Veja a cena da figura 2 e acompanhe a explicação com atenção. Uma lâmpada foi colocada acima e atrás de uma parede para criar uma sombra sobre um plano horizontal. A região A recebe luz diretamente da lâmpada, absorve uma parte e rebate outra, a qual sai em todas as direções acima desse plano. A região B, da parede, não recebe luz diretamente da lâmpada, mas pode ser vista, porque a luz espalhada pela região A chega até ela. Uma parte dessa luz que atinge a região B é absorvida e outra é refletida em todas as direções à frente da parede. A região C, a mais escura, não recebe luz diretamente da lâmpada. A região C também não recebe a luz espalhada pela região A, porque a região C está no mesmo plano de A. A luz que a região C está recebendo é aquela espalhada pela região B. Como as superfícies absorvem uma parte da luz que recebem, a luz sucessivamente refletida fica cada vez mais fraca. É por isso que temos três regiões com intensidades diferentes de iluminação: uma de luz (A) e duas de penumbra (B e C). Nenhuma citação foi feita à presença de oxigênio, porque o que acontece nesta cena nada tem a ver com ele nem com qualquer outro tipo de gás.

Agora que você já sabe que a luz refletida pelo solo lunar claro sai dele em todas as direções, você ainda acha que nenhuma luz poderia atingir o astronauta que estava na sombra do Módulo Lunar? Você não acha que foi justamente essa luz do solo circundante, extremamente claro, que iluminou o astronauta, criou a penumbra e permitiu aquela foto? Então, por que a turma das conspirações insiste tanto no "mistério da penumbra"? Será que não notaram a presença da luz indireta fortíssima emitida pelo solo ou fingiram que não a viram porque as explicações corretas não interessavam a seus propósitos?

Se a luz solar refletida pelo solo lunar é capaz de iluminar até mesmo a Terra, tão distante, criando o luar, imagine o que ela pode fazer com os objetos que estão mais próximos dela, na própria Lua. Se podemos bater uma foto de uma pessoa iluminada somente pelo luar, por que seria impossível de se obter uma foto de um astronauta na Lua, dentro de uma sombra, mas iluminado muito mais de perto pela mesma fonte de luz indireta? É bom não se esquecer de que o luar é o brilho causado na Terra pela luz da Lua, mas, quem estiver na Lua, vai ver o brilho no solo lunar causado pela luz do Sol. São essas e outras coisas delicadas que nunca são abordadas pelos partidários das conspirações científicas, porque certamente estragariam sua festa.

Eu espero que essa explicação correta sobre o mecanismo natural de formação da penumbra que permitiu a fotografia do astronauta tenha tornado as coisas menos misteriosas. Quando você for ler aqueles textos sobre a fraude das viagens à Lua, lembre-se sempre de que eles não têm o apoio dos cientistas de nenhum país do mundo. Só isso já deveria deixar qualquer um pensando duas vezes, antes de acreditar em afirmações tolas que somente tentam nos induzir ao erro. Tenha muito cuidado, porque por parte daqueles curiosos que pretendem rejeitar fatos inquestionáveis costuma haver uma grande pressa para somente afirmar o que convém ou de realizar análises parciais tendenciosas que só se prendem ao que interessa para direcionar suas conclusões aos pontos previamente estabelecidos. Dentro desse esquema de incompetência científica, tão cheio de falhas evidentes, é de surpreender que ele consiga convencer tanta gente boa. Por outro lado, ele também nos deixa um recado sobre aquilo que está por trás dessa calamidade: a falta de atenção adequada aos graves problemas educacionais brasileiros, que precisam ser enfrentados com a maior urgência possível.



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