A hipótese da Terra oca


Capa do livro A Terra Oca.

Como podemos saber que a Terra não é oca? Poderia ela ter somente uma crosta fina e um grande vazio por dentro, escondido de nós, que vivemos em sua superfície externa? Seria por fé que acreditamos no modelo que descreve nosso planeta como aproximadamente esférico e maciço, ou temos razões científicas e lógicas para sustentar a visão oficial sobre a constituição física interna da Terra? É o que tentarei mostrar neste texto, devido ao grande número de perguntas que chegam a mim sobre esse fascinante tema.

Em primeiro lugar, é necessário dizer que a fé fica reservada para a Religião, que não exige provas nos mesmos moldes da Ciência, pois está em um domínio diferente. Por exemplo, podemos ter fé na existência de Deus, já que ainda não existe uma explicação convincente para nossa parte não física, nosso eu, nossa consciência, nosso "saber que existimos". É essa propriedade estranha dos seres vivos mais complexos, supostamente ausente nos computadores, que abre a possibilidade de haver algo além da matéria comum, talvez uma energia consciente. Daí, é possível que alguns se sintam inclinados a acreditar em seres com uma existência independente de um corpo físico, mas não tenho ideia de como se poderia provar isso nem se iria ocorrer dentro de um laboratório cheio de cientistas.

Aproveitando o gancho do exemplo metafísico que citei, é bom lembrar que as pessoas são, na verdade, essa parte estranha que não podemos ver: o software que controla a matéria, o fantasma na máquina. Seres humanos iludidos costumam confundir as pessoas com seus corpos físicos e, de um modo ainda mais medíocre, com a roupa que vestem, o carro que usam e outras baixarias semelhantes. Por isso temos tantos problemas no mundo, como racismo, perseguições baseadas em aparência, assim como guerras causadas por diferenças que não são reais.

Em relação a nosso assunto interessante, é certo que quem tem alguma noção sobre como ocorrem os fenômenos da Natureza percebe que o Universo é regido por leis que os cientistas tentam descobrir com seu difícil trabalho, cujo resultado está sempre aberto a críticas. Por isso, uma teoria pode ser aperfeiçoada ou até descartada se novos fatos, antes desconhecidos, mostrarem que ela não mais se aplica. É assim que a Ciência progride e, devido a esse rigor, funciona muito bem, com resultados materializados em nossa tecnologia, que nela se apoia. A Ciência, então, deve ter fundamento nos fatos físicos objetivos e nas ideias sobre como explicá-los de um modo lógico. É justamente quando se tenta impregnar a Ciência com dogmas e fé que ela comete mais erros. Basta ver as explicações ingênuas que foram dadas para o mundo nos primórdios de nossa civilização e, bem mais tarde, o que fizeram com Giordano Bruno e Galileu Galilei, entre outros injustiçados, por terem tomado para si o direito de pensar.

Entre as leis do Universo, aquela que vai nos ajudar a descobrir a forma da Terra é a da gravidade. Esta pode ser vista como uma força que faz aproximar a matéria, seja ela qual for. O campo gravitacional é sempre atrativo e existe em tudo, não somente nos astros. Duas pequenas pedras também tendem a se aproximar por causa dessa força, mas, sendo a gravidade a mais fraca das quatro forças fundamentais conhecidas, não notamos, com nossos sentidos comuns, a atração que existe entre objetos de pouca massa. Assim mesmo, ela pode ser medida em um laboratório com instrumentos de precisão, como já foi feito inúmeras vezes. Então, pelo menos na parte prática, quantitativa, não há dúvidas, porque está bem claro que "a matéria atrai a matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado da distância", como Isaac Newton nos fez entender. Quanto à qualitativa, não vem ao caso, pois basta saber que a gravidade existe, não qual é sua causa.

Para a Física, desde que a massa da Terra não mude, não vai fazer diferença se ela é maciça ou oca. As leis do movimento orbital são as mesmas nos dois casos. Portanto, não podemos decidir, por meio da observação do movimento dos astros, se estes são cheios ou vazios por dentro. Devemos procurar outro caminho. Então, vamos isolar nosso planeta e considerar o que a gravidade pode fazer somente com ele, sem levar em conta as influências externas. Como essa força natural tem a característica de atrair tudo, haverá uma tendência de que as partes que formam a Terra se aproximem para reduzir suas distâncias ao mínimo. O resultado desse processo é que essas partes se atraiam mutuamente até que o conjunto assuma a forma esférica maciça. Se a Terra fosse oca, mesmo por um instante, a crosta terrestre, que é fragmentada, desabaria para dentro e nosso planeta logo ficaria menor e maciço. Um astro só poderia ser oco se tivesse pouca massa e fosse rígido. Uma Terra oca, então, não tem explicação dentro da Física, porque sua existência viola a lei da gravidade.

Para contornar esse problema da queda gravitacional para o interior oco, há quem afirme que a força centrífuga gerada pela rotação da Terra é capaz de manter a crosta afastada do centro. Esta explicação apenas dá uma aparência científica a um modelo insustentável. Ela cita corretamente o efeito da rotação mas não se importa em medi-lo. Fiz os cálculos e vi que, na Linha do Equador, para a crosta não desabar para o centro, a velocidade de rotação da Terra deveria ser cerca de dezessete vezes maior do que é. Assim mesmo, com essa grande velocidade, a força centrífuga seria quase nula perto dos polos, com uma direção próxima da horizontal, paralela ao solo. Desse modo, mesmo que as massas próximas da Linha do Equador flutuassem, as polares não o fariam.

Pensemos um pouco. Se a força centrífuga fizesse o material da Linha do Equador ficar flutuando, sem cair ao centro da Terra, as pessoas que moram em Macapá, por exemplo, ficariam sem peso. Pelo que sei, tudo lá cai exatamente como nas outras cidades do mundo. Se lá fizéssemos um buraco vertical e profundo no solo, uma pedra deveria flutuar na boca do buraco, sem cair nele, mas isso não ocorre. A gravidade leva a pedra para baixo de modo acelerado, provando que não há uma força centrífuga na Linha do Equador que tenha uma intensidade suficiente para anular a força gravitacional, como alguns insistem em afirmar.

Pensemos ainda mais. O processo de formação de planetas como a Terra é baseado em colisões de partes menores, que vão aquecendo o conjunto para além do ponto de fusão. Tente imaginar um modo de que esses impactos cósmicos violentos de objetos de tamanhos, velocidades e direções de movimento aleatórios venham a produzir um astro líquido, quente e oco, se suas partes tendem a se aproximar pela gravidade. Eu não consigo e, quando me refiro a líquido, estou mentalizando aquilo que sai dos vulcões, que mostra muito bem o que a Terra tem por dentro.

Eu li o livro "A Terra Oca", de Raymond Bernard. É um livro agradável, porque nos faz sonhar. O fantástico e o mistério são assim mesmo. Eles nos cativam, nos afastam da vida dura que levamos e nos fazem desejar mais. Por outro lado, algumas vezes, também podem nos distanciar de uma postura racional equilibrada, impelindo-nos a crer no que não existe. É simples assim.

O livro diz que a Terra tem buracos nos polos, que são entradas para sua parte oca, onde existem cidades e um sol central flutuante que daria luz, calor e vida aos seres de lá. Mas quem seria capaz de nos dar uma explicação física para a existência e a estabilidade de um buraco com dois mil quilômetros de diâmetro na fina calota de gelo, na água do Oceano Ártico e na crosta terrestre abaixo dela? Satélites fotografam as regiões polares rotineiramente e podemos ver que não aparecem entradas para o interior da Terra. E o que poderia manter um sol flutuando lá no centro? Não seria uma situação de equilíbrio instável? E a temperatura, como ficaria? Não teríamos um planeta semelhante a um forno de assar pão? São coisas como essas que nos deixam desconfiados. Por isso acredito que não há como sustentar essa hipótese antiga, já que todas as evidências são contrárias a ela.

A observação das estrelas é coerente com a forma aproximadamente esférica da Terra: a cada grau de latitude que avançamos para um polo, as estrelas também avançam um grau de ângulo no céu. Se houvesse um grande buraco num polo, a variação angular do céu em latitude aumentaria drasticamente naquelas imediações. No caso real, sempre vemos o horizonte, diferentemente do que ocorreria se alguém estivesse entrando em um dos orifícios polares. Neste caso estranho, uma parte do solo terrestre poderia ser visto verticalmente acima do observador, no lugar do céu. Totalmente absurdo, mas o desejo de que a vida seja mais cheia de aventuras do que realmente é faz com que algumas pessoas se apeguem a essas impossibilidades como um sonho bom do qual não desejam despertar, já que é na dura realidade que está o pesadelo.

Algumas fotografias mostradas no livro, utilizadas como provas de que os astros são ocos, não foram corretamente interpretadas. A foto de Marte mostra uma de suas calotas polares refletindo a luz solar, mas o autor afirma que o brilho que nela aparece é do sol interior do planeta oco, visto pela abertura polar. E não vai adiantar mostrar as fotos detalhadas de toda a superfície de Marte, mapeada por nossas sondas, porque sempre aparece alguém para dizer que são forjadas e que a NASA falsifica tudo desde as viagens à Lua. A foto da nebulosa planetária M57 mostra uma estrela moribunda e uma bolha de gás tênue se expandindo à sua volta, mas o livro afirma que a enorme concha gasosa que envolve a estrela vai se transformar em um planeta oco, porque sol central ele já tem. Enfim, falar é fácil.

Qualquer coisa que se afirme sobre a Terra oca tem de estar baseada em cálculos que demonstrem a possibilidade teórica de sua existência. Desejar ardentemente que a Terra seja oca não é o bastante. Não adianta a gente afirmar que há enormes buracos nos polos, se vamos lá olhar e não os encontramos. Primeiro é preciso termos certeza de que existem, para depois tentarmos dar uma explicação física para eles. Não podemos postular os buracos para depois ficarmos eternamente envolvidos na tentativa de justificar sua existência e sua fantástica capacidade de não aparecer em fotografias. E, no caso da suspeita de uma conspiração governamental global para encobrir a verdade sobre a forma de nosso planeta, o jeito é organizar uma expedição particular e sair em busca do mundo interior, levando todos que acreditam nele.

E o que dizer sobre viagens astrais, canalizações e contatos telepáticos com seres não corpóreos que descrevem a vida nas cidades do interior da Terra? Para quem acredita nessas coisas, é confortável saber que a Ciência atual não tem a menor condição de provar a existência e muito menos a inexistência de algo que esteja além do plano físico. Desse modo, devido à incapacidade de os cientistas opinarem nessa área, bem que algumas pessoas poderiam dizer que há, nas entranhas da Terra, cidades etéreas com seres idem, banhados por rios fosforescentes, vivendo da energia livre, purificadora e inesgotável do sol flutuante que os ilumina, distribuindo amor cósmico nos jardins paradisíacos da alma oca de Gaia, em uma outra dimensão da realidade, mais sutil do que a matéria densa comum que nos corrompe. Ninguém vai poder negar. Difícil também será provar, porque qualquer tentativa nesse sentido cairá no mesmo caso daquele dragão indetectável, que mora na garagem, que cospe fogo frio pela boca, que só uma pessoa vê e que nada difere de um dragão fisicamente inexistente.



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