Fraude na Astronomia?


Os sites de Davino Servidio expõem a sua teoria sobre o Sistema Solar, contrariando a Ciência Oficial. Ele afirma que a Terra e os outros planetas não giram ao redor do Sol, como Copérnico, Galileu e outros defendiam (e o mundo todo hoje defende). Pode Davino estar certo? Se não, como podemos contestá-lo?

Uma teoria precisa estar, em primeiro lugar, de acordo com as observações. De nada adianta afirmarmos que os planetas não se movem, se, quando vamos lá fora e olhamos para cima, vemos que eles mudam de posição o tempo todo. Um outro ponto a favor de uma teoria é ela poder prever coisas que ainda não aconteceram. No caso, se as equações matemáticas que resultam da teoria forem capazes de predizer, com antecedência, as posições do Sol, da Lua, dos planetas, dos asteróides e dos cometas, elas nos darão a confiança de estarmos no caminho certo. E, acreditem, elas o fazem.

Gastamos muitos séculos para chegar ao modelo de Sistema Solar que utilizamos hoje. Ele é produto de muito esforço intelectual e de observações sistemáticas do céu. Portanto, as equações que definem o movimento dos astros foram deduzidas para que se adaptassem à realidade observada. Assim, elas se comportam bem porque espelham a verdade ou a melhor aproximação dela possível para o nosso grau de conhecimento atual. Mais do que isso, existe uma razão lógica para que as equações sejam como são, pois elas vêm da teoria da gravitação universal, uma grande conquista da mente humana, que pode ser comprovada diariamente em qualquer laboratório. A teoria de Davino não é boa porque não está de acordo com a realidade.

Mesmo tendo sido difícil compreender o que ele tenta explicar, vou fazer alguns comentários sobre partes dos textos e acrescentar alguns argumentos a favor do modelo de Copérnico:


  1. Davino está certo quando diz que as pessoas se acomodam e deixam de questionar as "verdades absolutas" que nos impõem. Um exemplo disso é a quantidade enorme de pessoas acreditando naquela lorota do Sol que nasce todos os dias no mesmo lugar do horizonte. Entretanto, não é esse o caso da teoria de Copérnico. Eu, que não caí naquela embromação do Sol nascente, porque fui verificar na prática, também testei o modelo aceito para o Sistema Solar, percebendo facilmente que ele está correto. O que se vê no céu é, com enorme precisão, o que a teoria diz que se deveria esperar. Por isso eu acho muito estranho que Davino não concorde com ela.

  2. Davino faz uns cálculos de velocidade orbital mas se esquece que a velocidade é uma grandeza relativa, dependendo de um referencial. Quando ele calcula a velocidade da Terra, usa o Sol como referência. Quando calcula a velocidade da Lua, usa a Terra como referência. Portanto, ele não pode comparar as duas. Ao que parece, ele estranha a baixa velocidade da Lua (1 km/s) e a alta velocidade da Terra (29,5 km/s), alegando que a Lua não conseguiria acompanhar a Terra, já que tem uma velocidade muito menor. Na verdade, se os cálculos fossem feitos corretamente, Davino perceberia que a Lua tem mesmo uma alta velocidade em relação ao Sol, porque acompanha a Terra enquanto ela percorre sua órbita.

  3. O eixo de rotação da Terra não balança na direção Norte-Sul como Davino afirma. Ele fica praticamente palalelo a si mesmo durante a translação da Terra ao redor do Sol no período de 1 ano. Se o eixo terrestre tivesse esse balanço estranho, aquelas estrelas do Hemisfério Norte, que os habitantes do Hemisfério Sul não conseguem ver, poderiam ser vistas em outra época do ano. O céu estrelado balançaria também de Norte para Sul, e vice-versa. Quando se observa o céu real com atenção, não se nota nenhum movimento como esse.

  4. As estrelas que não são vistas nas noites do Hemisfério Norte não são vistas também no Hemisfério Sul. A razão disso é que elas estão no céu diurno do Hemisfério Norte e a luz do Sol atrapalha a visibilidade. Na ocorrência de um eclipse total do Sol, é possível vê-las. Eu já tive essa rara oportunidade e tudo ocorreu exatamente assim. Dizer que as estrelas mudam substancialmente de declinação no decorrer do ano é desconhecer o que de fato ocorre no céu.

  5. Davino sugere uma observação das Três Marias a partir da cidade de Macapá, à meia-noite, em duas datas: 21 de setembro e 21 de março, alegando que o céu teria o mesmo aspecto nas duas situações. Na verdade, em 21 de setembro elas estarão nascendo no Leste, mas em 21 de março estarão se pondo no Oeste, no lado oposto. São 180 graus fora do lugar. Isso ocorre porque a Terra girou 180 graus ao redor do Sol, em seis meses. Para "ver" as Três Marias nascendo no Leste no dia 21 de março, seria necessário olhar ao meio-dia, não à meia-noite. Portanto, o visual da meia-noite somente se repete uma vez por ano e não a cada seis meses, como Davino afirma. Mais um ponto para Copérnico.

  6. Se olharmos exatamente para cima sempre à meia-noite, veremos um lugar diferente do céu a cada mês. Esta é a maior prova da translação da Terra ao redor do Sol. Em Macapá, por exemplo, se olharmos no dia 21 de março, veremos a fronteira entre as constelações de Leão e Virgem. Se olharmos em 21 de setembro, veremos a constelação de Peixes, que é contrária. Em seis meses a Terra percorre meia órbita e sua face noturna fica voltada para o lado oposto do Universo. É por isso que as estrelas que vemos nas noites de verão não são as mesmas que vemos nas noites de inverno.

  7. Se os planetas não giram ao redor do Sol, como explicar o fato de que algumas vezes nós os vemos juntos, em conjunção, e outras vezes em oposição, em lados extremos do céu? Além disso, pode-se perceber facilmente que eles transitam pelas constelações. Como é isso possível em um modelo de Sistema Solar estático?

  8. Se os planetas não girassem ao redor do Sol, os cientistas estariam tão errados que jamais conseguiriam enviar uma nave até eles. As equações utilizadas no planejamento das missões espaciais levam em conta o movimento planetário que Davino pretende negar. Como é possível, então, que os cientistas consigam tamanho sucesso na colocação dessas sondas nos exatos pontos desejados, sobre a superfície de alguns planetas ou mesmo de asteróides?


Falar em fraude nos lembra a desonestidade. Haveria alguma razão para fraude no caso em questão? O que os cientistas ganhariam com isso? Por que arriscariam sua reputação, afirmando algo errado, se até uma criança curiosa poderia comprovar o engano?

Davino, em sua simplicidade, subestima a competência dos cientistas. Se os planetas não girassem ao redor do Sol, isto poderia ser facilmente percebido quando olhássemos para o céu. Mas os planetas se movimentam e Davino não vê, porque ele perde muito tempo pensando e escrevendo sobre um universo imaginário que segue leis particulares, feitas para dar sentido ao seu sonho.

Davino, o Universo não funciona como você pensa. Vá lá fora à noite, olhe para cima e comprove!




Ao perder algumas horas para dar uma resposta a Davino, eu estava mesmo é pensando em coisas mais graves que andam acontecendo, dando a impressão de que estamos retornando à era da ignorância. Vemos desde seres intraterrestres até Hercólubus, todos tirando dinheiro das pessoas de boa fé. Se alguém percebe Vênus durante o dia, o planeta é apontado como OVNI e aparece na TV. Um satélite artificial comum se transforma em nave-mãe, enquanto o brilho de um Iridium vira mensagem alienígena dirigida aos terráqueos. Lua vista de dia é sinal da santa que não compareceu ao encontro marcado. Um eclipse solar total causa medo e muitos falam em três dias de escuridão, no fim do mundo e na queda da Mir sobre Paris. Um lindo cometa anuncia desgraças e "causa" suicídios coletivos. Os planetas se juntam e a turma corre das praias para as montanhas, tentando escapar da grande onda. E a virada do milênio, que a mídia fez duas vezes? Poucos estranham e, se alguém questiona, sofre as conseqüências por ter saído do esquema e ousado pensar. Assim não dá, minha gente! Está na hora de despertar, porque lá fora existe uma realidade maior, bela, instrutiva e libertadora. É mais saudável aprender com ela e manter distância de toda essa baixaria que já tomou conta do País e que agora se espalha pelo mundo.



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