Construindo rosas dos ventos nas escolas |
Em visitas para realizar palestras nas escolas, quando pergunto aos alunos para onde fica o Norte, não é raro escutar um grito quase unânime: "Para a frente!". Uns poucos alunos apontam também para cima. Pensei no que poderia estar acontecendo, depois de tantas boas explicações e leituras nos livros sobre orientação e determinação dos Pontos Cardeais, se alguns alunos continuavam tão perdidos quanto antes. Sem querer generalizar, não poderia estar faltando aí alguma motivação para garantir a aprendizagem?
O método de orientação ensinado é tão simples que não se justifica que muitos alunos não o tenham entendido. Porém, mesmo que eles soubessem executá-lo corretamente, há um enorme problema embutido nele, que é não levar em consideração duas variações naturais: a da posição do Sol nascente e a do relevo do horizonte. Portanto, o método é somente uma aproximação grosseira, principalmente porque se baseia naquele erro de alguns livros escolares: o de afirmar que o Sol nasce todos os dias no mesmo lugar do horizonte. O que se pode fazer, então? Usar uma boa bússola? Também não, porque são poucos os lugares da Terra nos quais a bússola aponta para o Polo Norte.
Conversando com alunos e professores das escolas de Uberlândia, chegamos à conclusão de que seria melhor dedicarmos uma atenção especial e um tempo maior ao assunto da orientação pelo Sol, porque, em pelo menos alguns casos, o que restava do método como informação memorizada pelas crianças era aquele "para a frente" ou, pior ainda, aquele "para cima". Na prática, elas não haviam entendido bem o significado daquelas direções e não as utilizavam para nada.
Em muitas cidades de países que visitei, notei que até mesmo as crianças tinham o costume de se referir aos diferentes bairros pelos Pontos Cardeais e que elas se entendiam muito bem assim. Pensei, então, em difundir esse costume através das escolas de Uberlândia, para que num futuro não muito distante a compreensão desse conceito básico viesse a ser muito natural e de uso diário pela população.
Passeando por parques e praças públicas, encontrei grandes áreas cimentadas cuja única utilidade é servir de caminho para as pessoas. Imaginei que elas poderiam ser utilizadas para a construção de rosas dos ventos bem orientadas, que fornecessem indicações dos Pontos Cardeais, das direções das cidades mais conhecidas do Brasil e do mundo e que se marcassem nelas também as posições do Sol nascente e poente nos solstícios e em outras datas do ano. Muitas escolas poderiam fazer construções simplificadas semelhantes, porque dispõem de espaços externos aproveitáveis.
A ideia é antiga mas gerou poucos resultados concretos. Com a ampliação da AstroNet, que fez parte do Projeto Astronomia na Comunidade, incentivamos a construção das rosas dos ventos e planejamos observações públicas para serem realizadas com a utilização desse importante instrumento de orientação, como um reforço ao conhecimento adquirido nas escolas. Entre os fenômenos astronômicos e astronáuticos que podem ser utilizados nos trabalhos de observação estão os eclipses solares e lunares, as ocultações de estrelas e planetas pela Lua, as conjunções de estrelas e planetas com a Lua, as conjunções entre planetas e as passagens de satélites artificiais mais conhecidos sobre nossa cidade, como a Estação Espacial Internacional e o Telescópio Hubble.
O trabalho de campo tem início com a determinação precisa do meridiano de cada local. Para isso,
partimos de um método básico, muito conhecido, que não utiliza recursos modernos, mas logo a
experiência nos fez adotar modificações, cujo resultado é o que chamamos de método prático.
Atualmente, com a chegada de minha aposentadoria e o término oficial do Projeto, tenho
determinado o meridiano por meio de um método mais sofisticado, que utiliza recursos
tecnológicos, chamado por nós de método rápido. Os três métodos estão descritos a seguir:
Uma vez que o meridiano seja conhecido, é fácil marcar os Pontos Cardeais e desenhar
uma rosa dos ventos correta. Essa atividade pode ser realizada somente pela escola ou
com minha ajuda. O material mínimo necessário ao desenho da rosa é giz, barbante, fita
crepe, tinta plástica para piso (duas ou três cores) e pinceis ou rolinhos. É possível
fazer um trabalho com mosaico sobre a rosa já pintada, dando a ela maior durabilidade.
Veja exemplos nos links abaixo, referentes às atividades realizadas durante a execução
do Projeto e após seu término oficial:
Esperamos que a difusão da rosa dos ventos por todo o espaço urbano possa conscientizar as pessoas sobre nossa posição na Terra e no Universo, auxiliar a interpretação de mapas, permitir a orientação correta e possibilitar a localização e o reconhecimento de objetos como planetas, estrelas mais brilhantes e satélites artificiais.
As escolas de Uberlândia interessadas em desenhar suas rosas dos ventos devem enviar mensagem ao endereço eletrônico divulgado no rodapé das páginas principais para agendar as datas das atividades presenciais. Para as instituições de outras localidades, posso tirar as dúvidas e prestar ajuda à distância, também por e-mail. |