Você já percebeu como a parte noturna da superfície lunar apresenta às vezes uma tonalidade cinza (Figura 1), em vez de totalmente escura como se poderia esperar que sempre fosse? Como a luz solar não atinge diretamente aquela região da Lua, qual seria a origem do brilho estranho e belo ocasionalmente emitido por ela?
Note que o fenômeno da luz cinzenta é percebido melhor nas datas próximas da Lua Nova, quando a maior parte do hemisfério lunar noturno está voltado para a Terra. Quanto mais o solo lunar diurno aparecer para nós, menor será a intensidade da luz cinzenta do solo lunar noturno. Isso pode sugerir um ofuscamento de visão, ou seja, o brilho excessivo da Lua poderia fechar nossas pupilas e não nos deixar ver bem uma luz cinzenta constante. Porém, ao observar através de um telescópio, é possível deixar somente a superfície noturna da Lua dentro do campo da lente e acabar com o ofuscamento. Neste caso, nota-se facilmente que a luz cinzenta diminui de fato quando a fase da Lua aumenta, o que descarta a possibilidade de ofuscamento.
Para compreender a razão desse fenômeno basta lembrar que nem sempre nossas noites são escuras. Quando temos a Lua acima do horizonte, à noite, seu brilho é percebido no solo e, no caso da Lua Cheia, sua intensidade chega ao ponto de permitir que caminhemos com facilidade e segurança em locais desprovidos de iluminação artificial. Então, imagine o efeito de uma Terra Cheia vista por um astronauta que estivesse na superfície noturna da Lua. Devido ao maior tamanho da Terra, o brilho da Terra Cheia visto da Lua é muito superior ao da Lua Cheia que vemos daqui.
Pela ausência de outro corpo celeste próximo para lançar luz sobre a noite lunar, fica evidente que é o reflexo da luz do Sol pela Terra que ilumina um pouco a face escura da Lua. Mas qual a razão da diminuição da luz cinzenta com o aumento da fase lunar? A resposta é simples: a fase lunar vista da Terra é complementar à fase da Terra vista da Lua e, por isso, quando temos uma Lua Nova, a Terra vista da Lua está cheia, mais brilhante e faz a luz cinzenta ficar mais forte. Conforme a Lua apresenta a nós cada vez mais de sua parte iluminada pelo Sol, a Terra vai minguando para o astronauta e diminuindo seu brilho. A partir de certo ponto, o brilho que a Terra causa na Lua já não se faz notar facilmente por nós, mas somente pelo astronauta que lá estivesse.
É interessante notar que a luz solar faz três percursos (Figura 2) até que seja vista por nós como a luz cinzenta, também chamada de cinérea ou secundária. No primeiro percurso, ela sai do Sol e vem iluminar a Terra. No segundo, ela parte da Terra, refletida, e vai iluminar a face noturna da Lua. No terceiro, ela parte da Lua, também por reflexão, e vem até os olhos do observador terrestre noturno.
Algumas pessoas percebem a luz cinérea com naturalidade, sem estranhar nem ter sua curiosidade despertada. Outras ficam curiosas, mas não conseguem descobrir sua causa. Mas há aquelas que chegam a compreender o fenômeno e explicá-lo com perfeição, como fez o gênio Leonardo da Vinci.