Mágicas em três dimensões


Figura 7.1

É provável que você se sinta numa posição confortável durante a análise dos efeitos criados por objetos 3D quando cruzam o universo plano de Eck. Tendo-se três dimensões fica fácil visualizar isso, mas o mesmo não ocorre para os seres 2D, que não enxergam o terceiro eixo nem os objetos com volume. Para nos colocarmos numa situação menos cômoda, vamos agora imaginar alguns casos de interação de objetos 4D com o nosso espaço 3D.

Você está numa área distante das cidades e de outras pessoas quando vê um fenômeno estranho. À sua frente surge um ponto brilhante, que logo aumenta de tamanho e assume formas poliédricas variadas. Algumas evoluções são feitas pelo objeto, até que ele diminui e, sempre mudando de forma, reduz-se a um ponto e depois desaparece sem passar pelo espaço circundante. Comparando sua experiência com aquela que foi vivida por Eck, você vai concluir que um objeto 4D passou perto de você, movimentando-se numa direção à qual não temos acesso: aquele quarto eixo, perpendicular aos três que podemos desenhar. Como o objeto tem um hipervolume, não há como abrigá-lo aqui por inteiro. Quando ele viaja pelo hiperespaço e mergulha através do Universo, ele pode mostrar somente uma fatia sua a cada instante, que é o conjunto dos pontos que pertencem a ele e ao Universo ao mesmo tempo. Mas, do mesmo modo como as interseções de objetos 3D com o universo de Eck são figuras planas, com área, as interseções dos objetos 4D com o nosso espaço 3D são sólidos, com volume. Se você vir somente formas poliédricas, estará diante da interseção de um politopo 4D com o nosso espaço 3D. Se o objeto 4D for um hipercubo, uma das muitas formas possíveis de suas fatias 3D será o cubo comum.

A figura 7.1 é uma fotografia que mostra o efeito criado por um hiperobjeto com buraco central, uma rosquinha 4D, ao atravessar o nosso espaço 3D. Se você observar a sua interseção com o Universo, mostrada em cinco instantes diferentes do tempo, vai perceber que um sólido arredondado cresceu, se deformou e se quebrou. Logo em seguida, as duas partes tornaram-se únicas novamente e o objeto formado diminuiu de tamanho, para desaparecer sem deixar vestígios. Figura 7.2 Embora dois objetos tenham sido vistos durante algum tempo, você sabe que o hiperobjeto é um só e que aquelas partes separadas são as fatias 3D de um lado e de outro do buraco central. É o fenômeno análogo àquele que Eck viu quando uma rosquinha 3D comum atravessou o seu plano.

Todos os fenômenos de mudança brusca de velocidade que parecem invalidar as leis da Física também poderiam se manifestar em nosso espaço 3D se um objeto 4D atravessasse o Universo. Como você viu quando o squart de Eck cruzou um universo linear, criando uma interseção rápida e que mudava de direção num tempo nulo, o mesmo processo ocorreria aqui conosco no caso análogo de um supersquart 4D. Algumas pessoas dizem ter visto objetos velozes demais, com movimentos semelhantes, deixando também dúvidas sobre a inércia, mas é mais seguro aguardarmos por um caso de experiência própria, para depois encontrarmos uma explicação para ele.

No exemplo da cela 2D totalmente fechada que aprisionava Thinxy, a solução para sua libertação foi evidente para nós, mas pareceu mágica para todos os seres que habitam aquele plano. Pense agora no exemplo da figura 7.2, no qual uma esfera metálica e maciça está presa dentro de um cubo oco de vidro, de paredes grossas, flutuando num ambiente sem gravidade. Acreditamos que a esfera esteja totalmente cercada e que seja impossível tirá-la de lá sem quebrar as paredes, mas o que nós vemos como um ambiente fechado é visto por seres 4D como tendo uma abertura óbvia, por onde a esfera pode sair. Se ela se deslocar sobre o quarto eixo, mesmo que seja por uma fração ínfima de milímetro, vai desaparecer do Universo. Para nós, então, ela não estará em nenhum lugar, ainda que possa estar muito perto do centro do cubo oco. Se a partir daí os seres 4D a deslocarem paralelamente ao nosso espaço 3D e depois a colocarem nele de volta, fora da cela onde antes estava, veremos um verdadeiro milagre, porque a esfera terá saído daquele espaço interior do cubo sem atravessar as paredes de vidro. Você nunca ouviu alguém falar sobre casos semelhantes a esse? Eu já, mas deixei pendentes para uma análise futura, quando a testemunha for eu mesmo.

Figura 7.3

Por terem acesso direto a todos os pontos de nosso Universo, os seres 4D poderiam realizar cirurgias incríveis, porque não precisariam rasgar nossas peles nem fazer sondagens. O interior de um coração vivo, por exemplo, funcionando dentro do corpo de uma pessoa, poderia ser tocado e modificado, não somente em suas cavidades, mas também internamente aos seus tecidos. Você já não teria ouvido falar em coisa semelhante? Por outro lado, o mesmo poder seria capaz de retirar objetos 3D comuns do nosso ambiente para colocá-los no interior dos tecidos orgânicos de alguém, causando-lhe sérios problemas de saúde. Você não se lembra de nada parecido? Eu me lembro e até vi de perto as provas físicas de um caso que deixou muita gente boa numa situação de perplexidade evidente, mas não conte para ninguém que eu disse isso.

Pense um pouco mais sobre o exemplo do "teletransporte" da esfera. Imagine que, ao deslocá-la pela quarta dimensão, ela tenha sofrido uma rotação especial, para voltar aqui em sua forma espelhada. Se fosse uma esfera matemática, não notaríamos sua inversão, já que ela tem planos de simetria, mas no caso de um objeto esférico real, as imperfeições de sua superfície e de seu interior denunciariam a transposição de seus pontos. Um sapato para pé direito mostraria muito mais esse efeito ao ser transformado em um sapato para pé esquerdo, com inversões em suas figuras, bordados e letras. Uma pessoa 3D voltaria com os órgãos internos de seu corpo numa disposição oposta, enquanto os sinais da pele mudariam de lado. É uma coisa muito difícil de imaginar, porque sabemos que nada teria sido feito de fisicamente drástico com ela, mas somente um movimento suave e simples de rotação durante sua permanência "lá fora", antes de retornar ao nosso espaço 3D. Mas a saída de pessoas ou objetos para a quarta dimensão também poderia não ser seguida de um retorno, causando um desaparecimento para sempre. Isto não lhe parece familiar?

Na figura 7.3 estão três objetos rígidos comuns, sem planos de simetria, acompanhados por suas formas invertidas. Exercite sua visão espacial 3D e comprove que os objetos semelhantes não são idênticos. Figura 7.4 Não desenhe em papel nem construa modelos. Olhe para a imagem, gire os objetos mentalmente e tente encaixá-los com perfeição, cada um sobre o seu par. Você deve perceber que eles não podem ser sobrepostos. Esta é uma tarefa considerada difícil para a maioria das pessoas.

Veja, na figura 7.4, o caso de um fio com um nó no meio e as pontas presas a uma peça única. No espaço 3D não há como desfazer o nó sem soltar uma das pontas nem cortar o fio, mas, com acesso livre ao quarto eixo, seria possível levar uma parte do fio a sair do Universo, deixando aqui a impressão de que lhe falta um pedaço. Se isso fosse realizado, o nó poderia ser desfeito com facilidade. Depois, bastaria puxar de volta aquela parte do fio que estivesse fora de nosso espaço 3D. Não pense, porém, que o fio estaria de fato cortado em algum momento; ele ficaria inteiro durante toda a operação. Do mesmo modo, uma corrente poderia ser partida sem que seus elos fossem abertos. Muito estranho? Para nós, sim, mas não para os seres 4D.

Eu espero que alguns dos exemplos dados tenham despertado certas lembranças em você. Aí estão os fenômenos de aporte, de materialização, de cirurgia mediúnica, de desaparecimentos misteriosos, dos discos voadores, etc. A explicação dimensional parece caber como uma luva nesses casos, mas você não deve se influenciar por ela, porque quem escreve livros sobre isso pode já ter a visão 4D que você está desenvolvendo aqui e usá-la para imaginar os fatos descritos. Não é este um modo mais racional de explicar tudo?

Seriam os fenômenos incomuns citados acima apenas produtos da imaginação de algumas pessoas, sustentados pelo fato de que muitas outras gostam de acreditar neles? Tenho minhas dúvidas, mas para a maioria esmagadora dos casos é melhor você não descartar esta hipótese. Digo maioria porque em alguns poucos pode estar a oportunidade rara de que os cientistas necessitam para descobrirem coisas realmente novas sobre o Universo e aquelas dimensões extras que não conseguimos ver.



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