Carta ao SENAI


Uberlândia, 5 de junho de 1998

Prezados Senhores:

Meu nome é Bruno e sou morador da rua Ernesto Vicentine, em frente à nova portaria do SENAI. Como amador de Astronomia, não poderia deixar de comentar a estrutura da iluminação utilizada nessa nova portaria.

Antes, porém, quero falar um pouco sobre a poluição luminosa. Não se deve confundir a poluição luminosa (PL) com a poluição visual. A PL consiste na luz que sai das luminárias mal projetadas em direção ao céu noturno, ofuscando o brilho dos astros. Praticamente todas as luminárias utilizadas em espaços externos jogam luz em direção ao céu. Prova disso é o fato de que podemos ver as lâmpadas dos postes das cidades a quilômetros de distância. Em países como os Estados Unidos e a Alemanha já existem leis que protegem o meio ambiente da luz excessiva, que se traduz em desperdíio de dinheiro.

A luz que sai das luminárias em direção ao céu impossibilita a atividade de astrônomos no mundo inteiro. Além do aspecto científico da PL, existem fatores comprometidos direta e indiretamente pelo excesso de luz. Entre eles destacam-se a segurança do trânsito e a chamada luz intrusa. A segurança de motoristas e pedestres é comprometida na medida em que o excesso de luzes confunde o cérebro dos motoristas (processo sobre o qual não temos controle) e fecha as pupilas dos mesmos, diminuindo a visibilidade das ruas. Assim, colocando mais luz no intuito de melhorar a visibilidade, acabamos por diminuí-la. Já a luz intrusa é aquela caridade que invade as casas, incomodando os moradores durante a madrugada, e que afeta a vida de animais e vegetais (plantas iluminadas de dia pelo sol e de noite pelas luzes urbanas têm a taxa de respiração diminuída).

No tocante à portaria do SENAI, convém destacar o seguinte: As luminárias utilizadas são ineficientes na medida em que colocam a maior parte do corpo das lâmpadas exposta e jogando fora mais de 60% da luz emitida. Isso quer dizer que mais de 60% da energia elétrica utilizada está sendo jogada fora.

Essa falha de projeto pode ser corrigida com o reposicionamento das luminárias ou, o que é mais comum, com a troca das mesmas. É importante lembrar que a luz que sai nas direções vertical e horizontal não ilumina o chão, que é o que interessa ser iluminado. Dessa forma, jogar luz nessas direções é desperdiçar dinheiro. Por exemplo: uma luminária ineficiente que utiliza uma lâmpada de vapor de sódio de 150 Watts, quando substituída por outra bem projetada e que direciona a luz para baixo, pode utilizar uma lâmpada de 75 Watts, economizando energia elétrica sem que haja qualquer prejuízo na visibilidade do local, já que a luz está mais concentrada no lugar desejado.

Sendo assim, sugiro que sejam trocadas as luminárias no teto da nova portaria do SENAI, no sentido de eliminar o desperdício e contribuir com a observação astronômica em Uberlândia. Não sendo possível tal troca, desejo então que fique a consciência da existência do problema da PL para que futuros projetos (até mesmo de residências particulares) sejam elaborados de forma racional, visando o bem-estar de todos. Para maiores informações sobre a PL, sugiro uma visita ao site na Internet do astrônomo Roberto Ferreira Silvestre, construtor do primeiro observatório da cidade, no endereço: inga.ufu.br/~silvestr/. Envio, em anexo, alguns esquemas mostrando as luminárias mais utilizadas e que são responsáveis pela PL.

Desde já agradeço a atenção e me coloco à disposição para maiores esclarecimentos.

Atenciosamente

Bruno Arantes Bueno
R. Ernesto Vicentine, 380
38405-030 Uberlândia, MG



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