Ao Jornal da Record


Uberlândia, 27 de junho de 1999


Prezados Senhores
Boris Casoy e
demais jornalistas do
Jornal da Record


Como se não bastassem todos os problemas que o Brasil tem, nossas cidades estão embarcando, cada vez mais, na canoa furada da falsa modernidade, desperdiçando enorme quantidade de dinheiro público e energia elétrica numa iluminação artificial noturna de péssima qualidade, apontada como de Primeiro Mundo.

Há anos os astrônomos profissionais e amadores do País vêm alertando autoridades políticas, engenheiros, empresários e pessoas comuns para o problema da poluição luminosa, que inviabiliza a nossa ciência. É o excesso de luz mal direcionada das cidades que forma um véu opaco para uma outra luz, que chega do espaço sideral trazendo informações de valor incalculável para nossa compreensão do Universo.

A causa dessas bolhas luminosas sobre as cidades é a luz que jogamos diretamente para cima, a partir de luminárias dispersivas e obsoletas. Sua influência sobre o meio ambiente ocorre sem nenhuma necessidade e não nos permite mais ver o céu naturalmente estrelado que nossos antepassados contemplavam com grande emoção.

A interferência da perda de luz urbana faz-se notar mesmo a grandes distâncias de suas fontes, causando sérias dificuldades aos observatórios de pesquisa instalados em áreas isoladas. Vários já foram desativados no mundo por causa do mesmo problema.

Astrônomos brasileiros estão se unindo em uma campanha por uma melhor qualidade para a iluminação artificial, que aproveite toda a luz gerada, não a lançando para cima nem para além das áreas que se pretende iluminar. É o mínimo de competência que exigimos, já que a luz que sobe não vai iluminar o chão. Além disso, a luz perdida lateralmente, paralela ao solo, causa ofuscamento, diminui nossa capacidade de enxergar e invade nossas propriedades e privacidade sem o nosso consentimento.

Perdem-se bilhões de dólares anualmente no mundo com a dispersão desnecessária de luz urbana. O Brasil não é exceção. Agora, ficamos aqui, astrônomos prejudicados em nosso trabalho e lazer, escutando que estamos numa crise energética, enquanto até mesmo as próprias companhias de energia elétrica promovem esse desperdício, lançando luz, energia elétrica e o nosso dinheiro para o espaço.

Solicitamos que o assunto seja investigado com seriedade e que seja divulgado em matéria jornalística, para que passe a ser de conhecimento público. Até o momento, a ignorância sobre o problema tem levado as pessoas leigas à idéia de que estamos propondo escurecer as cidades, enquanto nossa solução apenas evita o desperdício, sem alterar os níveis úteis da iluminação noturna.

Para mais informações, consultem nossas páginas na Internet ou entrem em contato direto conosco via correio eletrônico.

Agradecemos pela atenção.


Roberto F. Silvestre
Observatório Astronômico de Uberlândia



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