Podemos sempre argumentar que os modelos matemáticos que construímos para descrever a realidade que nos cerca são apenas abstrações úteis desprovidas de um significado físico ao qual seja possível atribuir o rótulo de real. Para quem pensa assim, o Universo contém a si mesmo, sem as ilusões das múltiplas dimensões. Porém, para quem acredita que os modelos multidimensionais encerram coincidências demais para que não sejam um fato físico, é possível imaginar algo além do habitual para as viagens cósmicas do futuro, como também considerar a existência de outros universos com os quais ainda não temos contato direto.
Nos termos da Teoria da Relatividade, a textura do espaço-tempo é elástica. Quando um viajante se move rapidamente, algumas alterações importantes são percebidas no ambiente exterior a seu veículo. Pelo seu ponto de vista, a parte espacial do Universo se contrai na direção do movimento e faz reduzir a distância a ser percorrida. Quanto mais rapidamente ele viajar, menos terá de caminhar para chegar a seu destino. Outro efeito de seu movimento é que a parte temporal se dilata em seu local de partida e faz o fluxo do tempo de lá ficar mais lento. Quanto maior a velocidade do astronauta em relação à sua base, mais os relógios da base parecerão diminuir seu ritmo. Não mais haverá concordância entre o astronauta e a base sobre o que sejam exatamente 1 metro e 1 segundo, nem sobre a data do dia ou a idade de cada um. Mas, para o astronauta em sua nave, nenhuma contração de espaço ou dilatação de tempo ocorre. Para ele, tudo dentro da nave permanece parado como antes de iniciar a viagem. Nada muda também para os observadores que estão na base, já que eles não se consideram em movimento. O problema está na comparação das medidas de comprimento e de tempo realizadas nos dois sistemas, as quais são igualmente válidas para cada um, mas não coincidem entre si.
A contração do espaço facilita o deslocamento em grandes percursos. Se for possível acelerar uma nave até que atinja uma velocidade próxima à da luz (relativamente à Terra), numa viagem a Alpha Centauri, os 41 trilhões de quilômetros da distância de repouso se reduzem a uma pequena fração disso e podem ser percorridos em um tempo muito inferior aos 4,3 anos que um raio de luz necessita para realizar a mesma coisa. Parece estranho, porque à primeira vista temos um movimento supraluminal, mas ele não ocorre. O tempo citado, de 4,3 anos, é aquele medido pelos relógios da Terra, cujos habitantes percebem a nave viajando mais lentamente do que a luz. É o relógio do astronauta que mede aquele tempo muito inferior a 4,3 anos, porque sua nave de fato percorre uma distância muito menor que 41 trilhões de quilômetros. Portanto, não tente comparar as duas opiniões, porque elas se referem a dois sistemas com diferentes padrões de medida. Não faz sentido querer saber qual foi de fato a distância percorrida nem qual foi de fato o tempo gasto na viagem, porque neste caso há duas respostas para cada pergunta: a opinião dos habitantes da Terra e a opinião do astronauta. Veremos um pouco mais sobre isso, adiante.
A figura 15.1 mostra a opinião de Eck em três casos distintos de seu movimento ao longo do segmento AB, nos quais sua velocidade é medida em relação ao ponto A. No caso 1, ele tem velocidade nula e aproveita para analisar os objetos que vai encontrar em sua viagem até o ponto B: um círculo, um quadrado e um triângulo eqüilátero. No caso 2, Eck passa pelo ponto A com a metade da velocidade da luz. A contração do espaço já se faz notar e reduz o segmento AB a 86,6% de seu comprimento de repouso. Os objetos não parecem os mesmos de antes. No caso 3, Eck passa por A a 75% da velocidade da luz e nota que o segmento AB agora mede somente 66,1% do comprimento de repouso. Os objetos estão mais próximos e mostram-se a ele nitidamente como uma elipse, um retângulo e um triângulo isósceles. Ele não percebe deformações em seu próprio corpo nem na dimensão perpendicular a seu movimento. Um relógio fixo no ponto A se atrasa em relação ao dele, enquanto Eck permanecer em seu movimento retilíneo e uniforme. Mas há um detalhe importante: para Eck, os objetos e o segmento AB é que estão se movendo.
A figura 15.2 mostra a opinião de um observador estacionado no ponto A, para os mesmos três casos. No caso 1, Eck e o observador compartilham o mesmo sistema de coordenadas de espaço e tempo, porque não se movimentam um em relação ao outro. Tudo fica igual para ambos. No caso 2, o observador nota que Eck passa por ele com a metade da velocidade da luz e apresenta uma contração em seu corpo para um valor de 86,6% da medida de repouso (somente na direção do movimento). No caso 3, o observador vê Eck passar a 75% da velocidade da luz e ter seu corpo contraído para somente 66,1% de sua medida original. O observador nota que o relógio de Eck está ficando atrasado em relação ao seu e somente percebe contrações em Eck.
O limite final desse processo seria Eck viajar à velocidade da luz e anular as medidas do espaço a ser percorrido e do tempo gasto em percorrê-lo, como faz a luz. Para um raio de luz, todos os pontos de sua trajetória são um único lugar, visitado em um único instante. Mas os objetos materiais massivos não podem correr tanto assim, porque a energia necessária para acelerá-los cresceria ao infinito. Isso limita a velocidade prática de uma nave a um valor menor, à qual os efeitos da Relatividade são também menores. De qualquer modo, as grandes velocidades favorecem as grandes viagens, porque, no ponto de vista do viajante, o limite inferior para o tempo de viagem é zero. Assim, se ele tivesse velocidade suficiente, poderia ir até a Galáxia de Andrômeda e voltar em dois meses, embora tivesse uma surpresa muito desagradável quando aqui chegasse. Mas o que importa é que ele teria conseguido visitar outra galáxia numa viagem que consumiria uma fração pequena do tempo de sua vida, porque o tempo necessário para percorrer qualquer distância pode ser reduzido ao gosto do viajante, desde que ele disponha dos meios energéticos para isso.
É importante notar que a contração do espaço e a dilatação do tempo ocorrem sempre com quem se movimenta. Quem se move fica com réguas curtas e relógios lentos, de acordo com a opinião de quem está parado. Porém, é preciso ter muito cuidado para não ver aqui uma declaração de existência do movimento absoluto, porque não faz sentido querer determinar quem de fato está se movendo. Como o movimento é relativo, cada observador nunca se move em relação a si mesmo. Todo o resto de seu universo é que pode ou não se mover. Nos exemplos da figura 15.1, Eck percebeu o movimento do segmento AB e dos outros objetos, todos exteriores a seu corpo. Nos exemplos da figura 15.2, o observador em A percebeu somente o movimento de Eck. Há uma simetria perfeita aqui. Cada observador diz que o movimento e as transformações causadas pela velocidade ocorrem sempre com as outras pessoas ou coisas, nunca com ele mesmo. Quem encolhe e tem relógios que atrasam é sempre quem se move, mas cada observador tem sua própria opinião sobre quem está se movendo.
Se o observador 1 nota que o observador 2 se move, encolhe e possui um relógio lento, então, na opinião do observador 2, quem se move, encolhe e possui relógio lento é o observador 1. Isso nos faz pensar no que aconteceria se os dois relógios fossem comparados após uma viagem de ida e volta a uma estrela distante, em alta velocidade. Essa estranha situação é conhecida como o paradoxo dos gêmeos. Ela nada tem de paradoxal, mas é de difícil entendimento e não será considerada aqui. O que nos interessa é perceber que é real a capacidade de cada um para alterar as dimensões do Universo por meio do movimento relativo. Portanto, em uma frase mais direta: quem corre, chega mais cedo e anda menos, mas pode chegar no instante da partida sem andar nada, se correr à velocidade da luz.
Outro modo de deformar a estrutura do espaço-tempo é através da presença de massas. Onde há matéria (ou energia), há gravidade, a qual pode ser interpretada como uma deformação no Universo, que causa interferências nas medidas de espaço e de tempo tomadas em locais distintos, mais próximos ou mais afastados da massa perturbadora. No caso extremo dos buracos negros, principalmente dos rotacionais, têm surgido alguns indícios teóricos de anomalias que poderiam transportar um viajante a pontos incomuns, ao futuro, ao passado ou a lugares que sequer estão no Universo. Se tais coisas forem reais e puderem ser controladas com precisão, as viagens a longas distâncias poderão ser realizadas no tempo de uma vida humana ou até mesmo instantaneamente, sem depender do eixo temporal.
Imagine a existência de um processo que fosse capaz de causar uma torção (relativa?) num universo para depois conectar, através de uma ponte de pequeno comprimento, dois pontos que estavam muito separados. A figura 15.3 mostra a componente espacial de um universo 2D plano que foi dobrado para tornar possível uma viagem dificilmente realizável sobre a superfície original. Na nova estrutura apresentada, a ponte serve como um atalho para levar o viajante a seu destino em um tempo muito menor. Note que a alteração criou uma forma de espaço que permite ligar os dois pontos A e B através de caminhos retilíneos (geodésicas) distintos, de comprimentos muito diferentes. Após a realização da viagem, Eck poderia desfazer a ponte para levar seu espaço ao formato normal. Ainda que não tenhamos a menor idéia de como realizar tais coisas, nunca saberemos se é possível se ela não fizer parte de nossos pensamentos e nossos sonhos.
Na figura 15.4, Eck consegue construir um espaço tubular para conectar seu universo a um outro, próximo. Estabelecida a ligação, Eck pode se comunicar por meio de ondas eletromagnéticas ou até mesmo atravessar fisicamente a ponte e fazer contato pessoal com os seres que lá estão.
A imaginação nos leva a supor também viagens através do hiperespaço, desvinculadas da estrutura quadridimensional que hoje nos aprisiona. No modelo 2D da figura 15.5, Eck finalmente desvenda um dos maiores segredos da Natureza. Ele abandona seu universo e se transporta com seus companheiros para aquela região com mais dimensões, à qual ele antes não tinha acesso. Outros universos estão lá, finitos ou infinitos, coexistindo com o dele sem pontos comuns. Tendo controle sobre a situação, ele pode comunicar-se com os viajantes do hiperespaço, visitar aquelas outras estruturas de espaço-tempo, encontrar-se com cientistas e trocar informações importantes, como, por exemplo, comparar as constantes físicas dos diferentes universos, para verificar se são de fato gerais ou se dependem do espaço-tempo considerado.
O Universo pode ser uma estrutura quadridimensional mergulhada em um todo com um número de dimensões que chegaria ao infinito. Muitos universos podem estar lá fora esperando por nós. Talvez a distância entre dois universos distintos seja menor do que a que nos separa da Lua ou ainda menos. Dois universos poderiam estar quase se tocando sem que se percebessem mutuamente. Se encontrássemos a chave, poderíamos sair daqui em busca desses outros locais de existência ou realizar viagens a pontos muito separados, aqui mesmo no Universo (o nosso), desperdiçando pouco ou nenhum tempo.
Outras possibilidades existem. A Mecânica Quântica nos apresenta fenômenos intrigantes que sugerem estranhas conexões físicas entre todos os pontos do Universo, como se de certa forma aqueles atalhos invisíveis já existissem a ligar tudo. A pesquisa nessa área pode nos levar à compreensão definitiva sobre o que é a realidade e qual é de fato o papel da mente humana na modelagem do palco dos acontecimentos.
Realidades distintas poderiam coexistir sem interferência mútua sensível, se diferissem pelo valor de uma variável ainda oculta para nós, do mesmo modo como as diferentes freqüências das portadoras das estações de rádio permitem sua existência independente. A sintonia, como processo físico ou até mesmo mental, poderia ser fundamental para determinar a qual realidade pertenceríamos. Ainda que isso pareça ficção científica, somos obrigados a pensar em todas as possibilidades e muitas vezes imaginar o impossível, senão estaremos correndo o risco de perder raras oportunidades, porque a mágica de hoje pode vir a ser a ciência de amanhã.
Os bons cientistas sabem que ainda entendemos pouco do que chamamos de realidade. Progredimos muito, mas nos sentimos ainda próximos do início da jornada. Estamos sozinhos como seres vivos inteligentes? Há outras formas de vida semelhantes à nossa ou muito superiores em conhecimentos científicos? Alguém tem as respostas para as perguntas que nos atormentam? O que seriam os inúmeros casos sobre objetos voadores não identificados? É possível que as naves de sistemas estelares distantes estejam nos visitando, ou tudo não passa de alucinação coletiva, como alguns afirmam? E o que dizer sobre visitantes de outras dimensões? As viagens interestelares, fisicamente possíveis, são realizadas por algum ser vivo como nós? E as intergalácticas? Qual processo um alienígena de um sistema distante utilizaria para chegar até aqui? É possível manipular o tempo para fazer viagens sobre seu eixo nos dois sentidos sem criar paradoxos? Como pesquisar realidades paralelas, desconectadas da nossa? Como fazer para manipular verdadeiramente a estrutura do Universo sem destruí-lo? O que se pode fazer para abrir atalhos entre pontos distantes do Universo ou entre pontos de universos distintos, como passagens seguras para naves e pessoas? Universos existem ou o nosso é o único? Poderia um novo Big Bang começar com um acidente num laboratório de Física, destacando uma pequena parte do Universo para se tornar independente e crescer como realidade paralela? Dois universos podem se chocar? Quais seriam as conseqüências de tal fenômeno? Teriam universos anteriores produzido o nosso por colisão, num processo infinito? Como tudo começou? Haverá um fim inevitável para o Universo? E para a totalidade dos universos, se muitos existirem?
Encontrar as respostas para essas perguntas seria apenas um primeiro passo no sentido de chegarmos a uma compreensão profunda sobre a existência de tudo. Há questões ainda mais sérias, relacionadas a nós mesmos. Quem saberia dizer o que é a mente humana? O que é a consciência? O que somos nós? Somos o fantasma na máquina ou uma das propriedades da matéria organizada? Somos uma energia consciente e independente que controla um corpo físico para poder se manifestar nesta estrutura de espaço-tempo ou somente uma ilusão criada por uma enorme quantidade de dígitos gravada em um sistema de armazenamento altamente interconectado? Somos somente um "software" bem elaborado que se tornou consciente de sua própria existência? Então, onde está o programador? Alguém lá fora, no espaço ou além dele, espera alguma coisa de nós? O que estamos fazendo aqui? É o que gostaríamos de saber, porque desse conhecimento pode depender toda a vida na superfície da Terra, já que há muito perdemos o rumo do futuro promissor e seguimos a trilha ao abismo sem volta.